Dúvida. É um estado de ânimo que caracteriza a indecisão, a
indeterminação, a incerteza entre duas ou mais responsabilidades. Há grande
dificuldade em conceituar a dúvida, pois esta palavra nos remete a uma série de
étimos, os quais podem significar: duplo, ambíguo, descrença, desconfiança,
hesitação etc. Há, também, o aspecto problemático, enigmático e misterioso da
dúvida.
A dúvida pode ser teórica, existencial, positiva e
negativa. Como distinguir a dúvida teórica da existencial? Diante de
uma verdade especulativa, a dúvida se torna teórica. Diante da
impossibilidade de nos ligarmos a alguém confiantemente, a dúvida se
torna existencial. A dúvida teórica impede a certeza; a
dúvida existencial, a fé. A dúvida é negativa quando
deixa a alma insegura e angustiosa. É positiva, quando representa o
ponto de partida para as descobertas cientificas e filosóficas.
No pensamento antigo, confiava-se mais nas evidências imediatas
oferecidas pelos sentidos e pela razão. Os primeiros filósofos apregoavam a
admiração e o espanto pela harmonia do cosmos. Em se tratando do Velho
Testamento, logo no começo, a Bíblia cita o pecado original,
uma espécie de desconfiança do ser humano em relação a Deus. Adão e Eva tratam
Deus como seu rival. Por isso, a tentação, a desobediência.
No Novo Testamento, há também muitas dúvidas dos
apóstolos em relação a Jesus. No início, a dúvida era positiva, pois assim se
expressavam em relação a Jesus: "Que homem é este que opera tantos
milagres?" Depois, principalmente na Paixão de Cristo, duvidam de seus
ensinamentos. Pedro o nega por três vezes.
A dúvida na ciência e na filosofia. Descartes
(1596-1650) foi o precursor da dúvida metódica: colocava entre parênteses todo
o seu saber até encontrar bases sólidas sobre as quais assentá-lo. Marx (1818–1883)
colocou em dúvida as ideologias existentes e propôs a luta de classes.
Nietzsche (1844-1900) suspeitava das "verdades morais": por detrás
delas havia o medo da vida, a inveja pelos poderosos. Freud (1856-1939) analisa
a dúvida através dos processos libidinosos do subconsciente: nossas ações
refletem um disfarce dos recalques ali armazenados.
Presentemente, o meio dificulta a fé religiosa. O pragmatismo da
vida moderna, a luta pela sobrevivência e anelo de posse afastam o ser humano
da vivência plena do Evangelho de Jesus. Há, também, a influência dos maus
exemplos dos cristãos mais velhos.
Lembremo-nos de que a fé cristã sempre foi uma luta contra a
dúvida que nasce do coração. É por esta razão que Allan Kardec, em O
Evangelho Segundo o Espiritismo, insiste para que todo o cristão faça uso
da fé raciocinada, que é a única que pode encarar a razão, face a face, em
todas as épocas da humanidade.
Fonte de Consulta
IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo: Paulinas, 1983.
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Heresias
E até que importa que haja entre vós heresias, para que o que são
sinceros se manifestem entre vós — Paulo (I Coríntios, 11,19)
"Recebamos os hereges com simpatia, falem livremente os
materialistas, ninguém se insurja contra os que duvidam, que os descrentes
possuam tribunais e vozes". (Caminho Verdade e Vida, cap. 36)
Amas o bastante
Perguntou-lhe terceira vez — Simão, filho de Jonas, amas-me? (João, 21,17)
Não era suspeita de Jesus. Jesus iria confiar a Pedro o ministério
da cooperação nos serviços redentores. "O pescador de Cafarnaum ia
contribuir na elevação de seus tutelados no mundo, ia apostolizar, alcançando
valores novos para a vida eterna". (Caminho Verdade e Vida,
cap. 97)
Não Duvides
"...O que duvida é semelhante à onda do mar, que é levada
pelo vento e lançada de uma para outra parte." — Tiago. (Tiago, 1:6).
Em teus atos de fé e esperança, não permitas que a dúvida se
interponha, como sombra, entre a tua necessidade e o poder do Senhor.
A força coagulante de teus pensamentos, nas realizações que
empreendes, procede de ti mesmo, das entranhas de tua alma, porque somente
aquele que confia consegue perseverar no levantamento dos degraus que o
conduzirão à altura que deseja atingir.
A dúvida, no plano externo, pode auxiliar a experimentação, nesse
ou naquele setor do progresso material, mas a hesitação no mundo íntimo é o
dissolvente de nossas melhores energias.
Quem duvida de si próprio, perturba o auxílio divino em si mesmo.
Ninguém pode ajudar àquele que se desajuda.
Compreendendo o impositivo de confiança que deve nortear-nos para
a frente, insistamos no bem, procurando-o com todas as possibilidades ao nosso.
alcance.
Abandonemos a pressa e olvidemos o desânimo.
Não importa que a nossa conquista surja triunfante hoje ou amanhã.
Vale trabalhar e fazer o melhor que pudermos, aqui e agora, porque a vida se
incumbe de trazer-nos aquilo que buscamos.
Avançar sem vacilações, amando, aprendendo e servindo
infatigavelmente — eis a fórmula de caminhar com êxito, ao encontro de nossa
vitória. E, nessa peregrinação incansável, não nos esqueçamos de que a dúvida
será sempre o frio do derrotismo a inclinar-nos para a negação e para a morte.
Fonte Viva, capítulo 165 (Espírito Emmanuel, psicografia de
Francisco Cândido Xavier)