21 dezembro 2013

Reverenciando os Trabalhadores Antigos

Os Centros Espíritas originam-se, geralmente, da boa vontade de alguns adeptos do Espiritismo, que se juntam e organizam um grupo para o estudo e a prática dos ensinamentos trazidos por Allan Kardec. A maioria começa com o "Culto Cristão no Lar". Com o tempo, novos frequentadores aparecem e sentem-se na obrigação de oficializar a empreitada, ou seja, fundar uma Casa Espírita. 

A fundação de uma Casa Espírita requer os cuidados com a estrutura material e a estrutura espiritual. Na estrutura material, que é o local onde se realizam as sessões de estudo e as práticas mediúnicas, há que se oferecer aos frequentadores um ambiente limpo, com boa ventilação e propício ao recolhimento. Na estrutura espiritual, temos a preparação dos médiuns: para que eles possam oferecer uma boa acolhida aos que procurarem a entidade. 

Nos Centros Espíritas, alguns com mais de 50 anos de existência, os trabalhadores mais antigos têm muitas histórias para contar: fatos pitorescos, o sacrifício para a manutenção do prédio, os chás beneficentes para arrecadar fundos, os melindres suportados com heroísmo, a paciência para com os defeitos próprios e alheios etc. 

Ao surgirem novos colaboradores, os trabalhadores antigos vão lhes dando oportunidade, inclusive para assumirem postos na administração do Centro. Depois de assumirem essas funções, vão deixando os mais antigos num segundo plano, como se estivessem desatualizados e já não servissem para mais nada. Lembremo-nos de que um Centro Espírita não é como uma empresa, que troca os trabalhadores antigos pelos novos. Aqui, a vivência dos primeiros fundadores é de importância vital. 

Este texto é fruto de uma mensagem, que um Espírito amigo deixou durante uma reunião mediúnica, em que enfatizava um deslize que poderíamos estar cometendo: desprezo aos trabalhadores antigos. Façamos uma reflexão: como estamos tratando os fundadores de nossa Casa Espírita? Estamos aproveitando as suas experiências? Estamos atendendo aos seus conselhos? 

29 outubro 2013

Boa Nova

Boa Nova vem do grego Euangelion, em que eu = boa e angelion = notícia. Significa boa notícia. Para os gregos mais antigos, a boa nova indicava a "gorjeta" que era dada a quem trazia uma boa notícia. Exemplo: a notícia do nascimento do filho do rei devia ser levada pessoalmente pelo mensageiro. Chegando ao local, havia festas, cânticos e muita alegria.

Boa nova é o mesmo que Evangelho. Quando o termo grego euangelion passou para o latim, o "eu" transformou-se em "ev", daí evangelho. Em se tratando da boa nova de Cristo, deve-se escrever com e maiúsculo, ou seja, Evangelho. Segundo os exegetas, Jesus Cristo foi ao mesmo tempo a boa nova e o arauto. Jesus, quando pregava o Evangelho, foi escolhendo os seus apóstolos, como nos conta o Espírito Irmão X, no capítulo 5, "Os Discípulos", no livro "Boa Nova", psicografado por Francisco Cândido Xavier.

Catequese tem íntima relação com boa nova. "Catequese" vem do grego katechéo e significa fazer ressoar. Como nada escreveu, a palavra de Jesus devia ressoar sobre os discípulos. Ressonância significava a voz na presença dos discípulos. O discípulo que tivesse recebido o ensinamento era ressoado, ou seja, catequizado. Depois de catequizado, poderia catequizar outros. 

A moral do mundo anda invertida: apreciamos a violência, os esportes radicais, a confusão. Urge retomar o verdadeiro sentido da palavra "Evangelho", carcomida pela repetição nesses dois mil anos. Temos que nos transformar nos verdadeiros arautos do Senhor, assimilando, primeiramente, a sua doutrina e, depois, comunicando-a aos outros, como faziam os primeiros apóstolos. 

A força do exemplo ainda é a melhor forma para disseminar a boa nova. O Espírito Hilário Silva, no capítulo 3 ("A Força do Exemplo"), em Almas em Desfile, psicografado por Francisco Cândido Xavier, conta-nos que dois ouvintes saíram de um Centro Espírita e viram um mendigo na rua. Ficaram escondidos, somente para ver a reação do dirigente, que iria passar ali. Eles comentaram: "o orador fala, mas não faz". Foi o contrário: o dirigente deu sua camisa para o indivíduo que tiritava de frio. No outro dia, os dois estudantes estavam no templo espírita, ouvindo a pregação. 

Se pudéssemos, todas as manhãs, olhar o mundo com outros olhos, olhos orientados pelo mestre Jesus, com certeza teríamos implantado o reino dos céus nos corações dos seres humanos.  




11 setembro 2013

Transição Planetária

Transição é a passagem de um estado de coisas a outro. É a fase em que as forças do ciclo atual de evolução diminuem e abrem espaço para as novas que ainda não assumiram o seu papel. Transição planetária é o ciclo de renovação onde os Espíritos menos evoluídos estão dando lugar aos Espíritos mais evoluídos. A transição sempre existiu. Numa determinada época, pode avançar mais rapidamente. Observe a incubação da Idade Média preparando o período da Renascença. Presentemente, estamos no limiar de uma grande transição em que o planeta passará da condição de mundo de provas e expiações para o mundo de regeneração, já previsto no planejamento celestial.

Allan Kardec, na obra A Gênese, já tratou desse assunto no subtítulo “Geração Nova”, inserido no capítulo XVIII “São Chegados os Tempos”. Quando os tempos chegarem, haverá grandes acontecimentos para a regeneração da humanidade. Aos incrédulos, nada diz; aos crentes, algo de místico, de sobrenatural. Allan Kardec quer provar que as duas interpretações estão erradas. Ele diz: "A primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da Natureza, mas o cumprimento dessas leis".

Segundo Allan Kardec, chegado o tempo, haverá grande emigração de Espíritos. Os Espíritos que praticam o mal pelo mal serão recambiados para outros orbes, mais inferiores do que o Planeta Terra. É da lei do progresso que essas coisas acontecem. É que o Planeta Terra também está passando por uma transformação, ou seja, de mundo de provas e expiações para o mundo de regeneração. Neste novo mundo, os Espíritos recalcitrantes no mal não terão mais vez e precisarão ir para outro lugar, para não atrapalhar o progresso dos que aqui estarão reencarnados.

Há vários livros que tratam do tema. Em Transição Planetária, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, procura mostrar que todos os acontecimentos, bons ou ruins, fazem parte do processo de evolução. O Espírito Ismael, em Planeta Terra em Transição, pela psicografia de Izoldino Resende, trata da preparação para a chegada do Consolador, com o objetivo de trabalhar o planeta para a transição planetária, que começou no período das guerras mundiais. Em Amanhecer de uma Nova Era, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, também pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, mostra-nos a transição do planeta não só do ponto de vista geológico, mas especialmente no que diz respeito aos aspectos moral e espiritual.

Estamos no limiar de uma nova era. Urge despertarmos para as realidades do Espírito, caso queiramos habitar um planeta purificado. 

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/transi%C3%A7%C3%A3o-planet%C3%A1ria



07 setembro 2013

Fotografia e Telegrafia do Pensamento

É possível um fenômeno psicológico transformar-se em fisiológico? O pensamento pode ser fotografado? Como tratar este tema à luz do Espiritismo?

Tenhamos em mente que o pensamento propriamente dito não pode ser fotografado porque ele não é matéria.

Ernesto Bozzano, em Pensamento e Vontade, fala-nos da fotografia do pensamento no sentido de alguém projetar uma imagem qualquer; depois, esta imagem é captada por uma máquina fotográfica. Allan Kardec, por sua vez, liga fotografia do pensamento aos fluidos espirituais. Para tal, em A Gênese, explica-nos que os fluidos espirituais constituem um dos estados do fluido cósmico universal. São a atmosfera dos seres espirituais; são o elemento onde eles colhem os materiais com que operam. São o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som.

Para melhor compreenderemos, tenhamos em mente que é pelo pensamento e pela vontade que os Espíritos agem sobre os fluidos espirituais, imprimindo-lhes uma direção, tanto para o bem quanto para o mal. Esse teor energético forma o halo mental da criatura. Ao criarmos imagens fluídicas, o nosso pensamento se reflete em nosso envoltório perispirítico como num espelho. Isso toma um corpo, podendo ser fotografado, ou seja, captado pelo nosso interlocutor. Em se tratando de um Espírito desencarnado, basta que ele pense em algo que essa coisa se produza. Se ele pensar em uma de suas encarnações passadas, essa imagem se reproduz na visão psíquica do encarnado.

Continuando o estudo, verificamos que o vidente pode pressentir o momento da realização de um ato, mas não o ato propriamente dito. A razão é simples: o vidente pressente a realização, porque essa imagem está estampada na atmosfera psíquica de uma determinada pessoa. Não pode, contudo, determinar a sua realização, porque a realização depende do livre-arbítrio do agente. O vidente pode pressentir que uma pessoa tem vontade de cometer um assassinato, mas não o assassinato em si.

Pela telegrafia do pensamento, podemos apreciar a lei de solidariedade, em que não há um pensamento, criminoso ou virtuoso, que não tenha ação real sobre a massa dos pensamentos humanos e sobre cada um deles. Nesse sentido, a atmosfera psíquica de nosso Planeta nada mais é do que a soma de todos os pensamentos dos que nele habitam.

Tenhamos cuidado com o teor energético do nosso pensamento. Sem o percebemos, podemos criar imagens deletérias na mente de nossos irmãos de jornada.

Fonte de Consulta 

KARDEC, Allan. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 17. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1975.

KARDEC, A. 
Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 15.ed., Rio de Janeiro: FEB, 1975. 





05 setembro 2013

Desdobramento

Desdobramento é o desprendimento parcial do Espírito, do corpo físico, que se efetua durante o sono: artificial ou natural. O desdobramento pode ser consciente, semi-consciente, inconsciente e psíquico. No sono natural, o deslocamento é espontâneo e procura seus afins. Muitas vezes fica ensimesmado sobre si mesmo. Por isso, diz-se que o criminoso sempre volta ao lugar do crime. No sono artificial, desloca-se sob a ordem do hipnotizador, mas permanece ligado ao corpo somático por fio tenuíssimo.

Alexandre Aksakof, professor da Academia de Leipzig e fundador, em 1874, da revista "Psychische Studien" (Estudos Psíquicos), na Alemanha, foi quem dividiu o desdobramento em consciente, semi-consciente, inconsciente e psíquico. Quis nos mostrar o que o agente viu e ouviu em sua saída e volta ao corpo físico. Em se tratando do desdobramento psíquico, diz que é o mesmo que bilocação, o próprio desdobramento e a ubiquidade.

O desdobramento é um fenômeno anímico. Pode, porém, tornar-se mediúnico. Isso se dá quando o médium (desdobrado) recebe a comunicação de algum Espírito. Nesse caso, ele se torna intermediário, ou seja, médium. Por este fenômeno, o médium pode entrar em contato com Espíritos e ajudá-los. Em um trabalho de desobsessão, o médium pode se desdobrar e entrar em contato com o Espírito; depois, trazê-lo para ser doutrinado. 

Quando adormecemos, o nosso espírito de desliga parcialmente do corpo físico (desdobramento). Há necessidade de bem prepararmos esse momento, para que ele vá a lugares em que possa receber lições dos mentores espirituais. Por isso, uma prece, a leitura de uma página do Evangelho ou outras induções salutares são sempre bem-vindas, pois levamos conosco as últimas impressões do dia. Sendo boas, levar-nos-ão aos bons lugares.

Como poderíamos direcionar um exercício de desdobramento? Primeiramente, relaxamento e apassivação do agente. Posteriormente, pode-se propor ao agente deslocar-se até o teto da sala. Em outra ocasião, deixar algum objeto (livro, por exemplo) em outra sala. Pedir para o agente se deslocar até lá e descrever o que viu.

Na literatura espiritualista, há diversos termos que expressam o desdobramento: corpo astral, projeção astral, experiência fora do corpo e experiência de quase-morte. Todos esses termos caracterizam um estado alterado de consciência.

Fonte de Consulta

(1) PAULA, J. T. Dicionário Enciclopédico Ilustrado de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia. 3. ed. São Paulo: Bels, 1976.

(2) XAVIER, F. C. Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977, cap. XXI.




14 julho 2013

Observai os Pássaros do Céu

O ser humano é um ser simbólico por natureza. No símbolo, que muitas vezes se confunde com o mito, há muitas verdades. Para descobri-las, é preciso buscar o fundo da coisa, a origem do processo, observando, inclusive, a época em que aquele conhecimento foi ventilado. Jesus não fugia às regras da sociedade em que vivia: seus conhecimentos eram transmitidos por parábolas, meio de comunicação da época.

“...Observai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, nada guardam em celeiros; mas, vosso Pai celestial os alimenta. Não sois muito mais do que eles? - e qual, dentre vós, o que pode, com todos os seus esforços, aumentar de um côvado a sua estatura?... Buscai primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. - Assim, pois, não vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã, porquanto o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal". (Mateus, cap. VI, vv. 19 a 21 e 25 a 34.) 

O texto evangélico diz que deveríamos acumular tesouros no céu, pois lá não há vermes para corroer o dinheiro. Em realidade, há uma diferença de planos. No plano terrestre, estamos sujeitos à lei da matéria: devemos atendê-la, suprindo as nossas necessidades de alimentação, vestuário, lazer etc. No plano espiritual, o que se nos pede é que saibamos dar a esses bens um valor menor do que aos bens espirituais. Por isso, acumular tesouros no céu (entendido como aquisição de sabedoria).

“Observai os pássaros do Céu”. É uma forma romântica de enfatizar a confiança na Divina Providência. Às vezes, passamos por dificuldades financeiras, tendo como consequência a falta de alimento, vestuário e moradia. Nesse momento crucial, voltemo-nos ao Criador, solicitando-lhe, através da prece, forças para suportar a nossa provação, para o cumprimento dos seus desígnios, tendo em mente que nada acontece por acaso. Assim sendo, acalmemos o nosso coração e lancemos uma luz na escuridão de nossa alma. Lembremo-nos da frase lapidar: “Pensa em Deus primeiro”.  

Buscar primeiramente e Reino de Deus e tudo o mais virá por acréscimo. O reino de Deus não é um lugar circunscrito, mas "obra divina no coração dos homens", ou seja, a edificação da sabedoria e a conquista do amor, através do trabalho incessante na prática do bem. É o desapego aos bens materiais, o perdão às ofensas dos inimigos, enfim, é a lembrança das Leis Divinas ou Naturais, gravadas por Deus em nossa consciência. Nesse sentido, todo o esforço despendido em auxiliar o próximo, em silenciar uma crítica, em pensar duas vezes antes de querelar com o vizinho assume papel relevante na prática da perfeição. 

O Espírito Emmanuel pede-nos para não nos afligirmos com a prosperidade alheia, pois isso nada mais é do que um sentimento de inveja, egoísmo, característica dos homens impiedosos. Ao contrário, deveríamos confiar de tal maneira no Divino Amigo que, por mais desnudos que estivermos, ainda assim poderemos renovar as nossas atitudes para o bem.

Olhemos as coisas da Terra sob o ponto de vista dos Espíritos superiores. Assimilando-lhes os ensinamentos, estaremos nos capacitando para entrar no reino de Deus, no sentido de que o Divino acabe se identificando com o que seja Divino. 



05 julho 2013

Delanne, Gabriel e Flammarion, Camille

François-Marie-Gabriel Delanne (1857-1926) foi cientista, engenheiro, filósofo e espírita. Ao lado de Allan Kardec e Léon Denis merece, por seu devotamento à Ciência Espírita, o título “Apóstolo do Espiritismo”. Dentre eles, apenas Delanne nascera numa família que já conhecia o Espiritismo.

Seu pai, Alexandre Delanne, ao viajar em negócios, ouviu falar do Espiritismo, o que lhe ensejou a leitura de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Depois dessa leitura, conheceu pessoalmente Allan Kardec, tornou-se seu amigo e frequentou a sua casa.

Gabriel Delanne foi um trabalhador exemplar. Observe algumas de suas atividades: a) fundador, juntamente com seu pai, da União Espírita Francesa, em 24/12/1882; b) colaborador e redator da revista bimensal Le Spiritism, em março de 1883; c) auxiliou na fundação da Federação Francesa-Belgo-Latina, em 1883; d) durante os anos de 1886, 1887, 1888, 1889 e 1890 fez inúmeras conferências de propaganda do Espiritismo; e) em julho de 1896, apareceu o 1.º número da Revista Científica Moral do Espiritismo, fundada por Gabriel Delanne. (1)

Entre as suas obras, anotamos: Le Spiritisme devant la Science (O Espiritismo perante a Ciência), em 1885; Le Phénomène Spirite (O Fenômeno Espírita), em 1896;  L’Évolution Animique (A Evolução Anímica), em 1897. (1)

Camille Flammarion (1842-1925) foi cientista, filósofo e espírita. Fez estudos no Observatório de Paris. Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas. Em 1870, escreveu e publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes. (2)

Tornando-se espírita convicto, foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec, tendo sido o orador designado para proferir as últimas palavras à beira do túmulo do Codificador do Espiritismo, a quem denominou "o bom senso encarnado". (2)

Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados. Eis algumas delas: Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais; As Maravilhas Celestes; Deus na Natureza; As Casas Mal-Assombradas; Estela; A Morte e seus Mistérios; O Fim do Mundo e outras. (2)

A contribuição de Delanne e Flammarion, no contexto da codificação espírita, pode ser assim resumida: à Allan Kardec coube a tarefa de organizar e compilar os ensinamentos revelados pelos Espíritos; à João Batista Roustang, a organização do trabalho da fé; à Léon Denis, o desdobramento filosófico; à Gabriel Delanne, a estrada científica; à Gabriel Delanne, a abertura da cortina dos mundos. (3)

Fonte de Consulta

(1) BODIER, Paul e REGNAULT, Henri. Gabriel Delanne: Sua Vida, seu Apostolado. Rio de Janeiro: C. E. Léon Denis, 1988. 

(2) GODOY, Paulo Alves. Grandes Vultos do Espiritismo. São Paulo: FEESP. 

(3) XAVIER, F. C. Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo Espírito Humberto de Campos. 11. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977.




03 julho 2013

Revista Espírita

Revista Espírita é uma coletânea de fatos e de explicações que complementam os princípios doutrinários desenvolvidos em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns. Em 15 de novembro de 1857, na casa do Sr. Dufaux, por intermédio da médium Sra. E. Dufaux, começou a ruminar a ideia de publicar um jornal espírita. No item "Revista Espírita", do livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, há o relato da consulta feita aos benfeitores espirituais (ver abaixo). 

A Revista Espírita é composta de 12 volumes; oferece-nos o registro minucioso das pesquisas realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. No conjunto da Codificação, é um verdadeiro documentário, um valioso relatório científico e histórico. Pode-se dizer que a Revista Espírita foi o principal instrumento de pesquisa de Allan Kardec, pois através dela, captou as reações do público. Além disso, constituiu-se num verdadeiro laboratório em que as manifestações mediúnicas, colhidas pelo mundo todo, eram examinadas à luz dos princípios de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, controladas pelas experiências da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

O esforço de publicar a Revista Espírita prende-se à composição da história do Espiritismo. Nesses 12 volumes e onze anos e quatro meses de trabalho, estão arrolados as reuniões, as pesquisas, os trabalhos publicados, os estudos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, os trabalhos dos Centros Espíritas, bem como as contribuições das sociedades estrangeiras a ela ligadas. Nela, estão catalogados os problemas que não puderam ser esmiuçados em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns: mediunidade curadora, os casos de obsessão e possessão, o problema das mistificações, a comunicação de pessoas vivas, entre outros.

Cabe ressaltar que há uma diferença entre a história do Espiritismo, retratada na Revista Espirita, daquela feita por Arthur Conan Doyle. Kardec estabelece as duplas ligações do Espiritismo com o Cristianismo, de um lado, e com o Druidismo, de outro, e prova que antes das ocorrências espíritas de Hydesville, nos Estados Unidos, com as irmãs Fox, narradas por Arthur Conan Doyle, em História do Espiritismo, já se realizavam sessões espíritas na França.

Para ilustração, citamos os 6 períodos de desenvolvimento da Doutrina Espírita, expostos na Revista Espírita de 1863: 1) curiosidade; 2) filosófico; 3) luta; 4) religioso; 5) intermediário; 6) renovação social. O período de curiosidade caracterizou-se pelos fenômenos das mesas girantes. O período filosófico coincidiu com o lançamento de O Livro dos Espíritos (18/04/1857). O período de luta identificou-se com o auto-de-fé de Barcelona (1860), em que os livros espíritas foram queimados em praça pública. Não houve explicação para o período intermediário. O período de renovação social preconizava a mudança de hábitos e atitudes de toda a humanidade.

Fonte de Consulta


KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1858. Tradução de Júlio de Abreu Filho. São Paulo: Edicel, s.d.p.

15 de novembro de 1857


(Em casa do Sr. Dufaux; médium: Sra. E. Dufaux)


A REVISTA ESPÍRITA

Pergunta — Tenho a intenção de publicar um jornal espírita: julgais que o conseguirei e me aconselhais a fazê-lo? A pessoa a quem me dirigi, Sr. Tiedeman, não parece resolvida a me prestar o seu concurso pecuniário.

Resposta — Consegui-lo-ás, com perseverança. A ideia é boa; preciso se faz, porém, deixá-la amadurecer mais.

P. — Temo que outros me tomem a dianteira.

R. — Importa andar depressa.

P. — Não quero outra coisa, mas falta-me tempo. Tenho dois empregos que me são necessários, como o sabeis. Desejara renunciar a eles, a fim de me consagrar inteiramente à minha tarefa, sem outras preocupações.

R. — Por enquanto, não deves abandonar coisa alguma; há sempre tempo para tudo; move-te e conseguirás.

P. — Devo agir sem o concurso do Sr. Tiedeman?

R. — Age com ou sem o seu concurso; não te consumas por sua causa. Podes prescindir dele.

P. — Eu pretendia publicar um primeiro número como ensaio, a fim de lançar o jornal e marcar data, e continuar mais tarde, se for possível. Que vos parece?


R. — A ideia é boa, mas um só número não bastará; entretanto, é conveniente e mesmo necessário, para abrir caminho. Será preciso que lhe dispenses muito cuidado, a fim de assentares as bases de um bom êxito durável. A apresentá-lo defeituoso, melhor será nada fazer, porquanto a primeira impressão pode decidir do seu futuro. De começo, deves cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar o vulgo. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem ela o jornal careceria de fundamento sólido. Em suma, é preciso evitar a monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que, para os trabalhos ulteriores, será
poderoso auxiliar.

NOTA — Apressei-me a redigir o primeiro número e fi-lo circular a1.º de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender, porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa. A partir daquela data, os números se sucederam sem interrupção e, como previa o Espírito, esse jornal se tornou um poderoso auxiliar meu. Reconheci mais tarde que fora para mim uma felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas ideias e sua vontade e criar-me embaraços. Sozinho, eu não tinha que prestar contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a tarefa.

Extraído de Obras Póstumas, de Allan Kardec.






28 junho 2013

Sincretismo e Espiritismo

Sincretismo. Originariamente, união dos cretenses contra o inimigo comum. No século XVII, passou a significar mescla de doutrinas derivadas. A partir daí, o conceito alargou-se a toda a forma de mistura – por justaposição, composição, sobreposição ou fusão – de doutrinas, de ritos, de imagens, de símbolos.

Em se tratando do sincretismo filosófico-religioso, o Helenismo fornece subsídios para a edificação do Judaísmo e do Cristianismo, na medida em que estes passam a interpretar as revelações com base na filosofia grega, dogmatizando-as na forma de raciocínio concreto. Santo Agostinho, por exemplo, reinterpreta o platonismo para conciliá-lo com os dogmas do cristianismo; Santo Tomás de Aquino, por outro lado, utiliza a filosofia de Aristóteles para explicar a relação entre fé na revelação e razão. 

No estudo do sincretismo, cabe ressaltar a formação da Umbanda, uma religião tipicamente brasileira, que mistura crenças indígenas, católicas e africanas.

O Espiritismo não se integrou no sincretismo religioso. O Espiritismo é uma doutrina codificada por Allan Kardec: há diversos princípios subjacentes. O sincretismo pode existir nas pessoas que adotam o Espiritismo, não em sua doutrina. Ao passarmos de uma religião para outra, levamos conosco o baú. As palavras “chakra” e “carma”, tão exaustivamente utilizadas no meio espírita, foram extraídas do Esoterismo. O corpo fluídico de Cristo foi extraído das teorias de Roustang, um contemporâneo de Allan Kardec.

O Espiritismo não se fez dono das máximas de Cristo: com o auxílio dos Espíritos desencarnados, apenas esclareceu os pontos obscuros. No caso dos "milagres", deu uma versão racional, apoiada na experiência e na lógica. Cabe lembrar que a força do Espiritismo está em sua filosofia, no apelo que dirige à razão e ao bom senso. 




02 junho 2013

Dívida

Dívida. Do latim debitum, “aquilo que é devido”, do verbo debere, “dever”. Em direito, é todo dever jurídico de cunho patrimonial. Em economia e finanças públicas, implica uma problemática específica dentro da Economia Política. O sentido translato de dívida diz respeito aos favores que recebemos dos outros, mesmo que graciosamente, e a respeito dos quais contraímos uma dívida de gratidão.  

Os princípios da lei de Deus estão gravados em nossa consciência. Quando desobedecemos estes princípios, contraímos uma dívida para com a Lei Natural. Mais cedo ou mais tarde, devemos quitá-la. Nesse sentido, a reencarnação não deve ser vista como um castigo, uma punição de Deus por uma dívida contraída. Ela é uma oportunidade de acerto, de quitação. É o processo inerente à evolução material, moral e espiritual do Espírito.

O Espírito André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, ao comentar mandamento “honrar pai e mãe”, diz: “Lembra-te de que a dívida para com teus pais terrestres é sempre insolvável por sua natureza sublime”. Em se tratando do mandamento "não roubar", afirma: “Evitemos a apropriação indébita para que não agravemos as nossas próprias dívidas”.

A "Parábola dos Devedores e Credores" está posta nos seguintes termos: “Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicastes. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.”  (Mateus, 18, 32 a 35). Depreende-se que devemos sempre retribuir a compaixão que recebemos de nossos credores, quais sejam Deus, o nosso pai terrestre, entre outros.

A dificuldade de quitação de uma dívida pode ser retratada da seguinte forma:

O Espírito Humberto de Campos (Irmão X), no capítulo 15 (“O Compromisso”), do livro Estante da Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier, relata a história de Alberto Nogueira, que reencarnou com muita dívida do passado. Alberto Nogueira, prestes a reencarnar neste Planeta, diante de seu quadro de deslizes morais e espirituais, pede uma existência com inúmeras deficiências físicas e dificuldades de toda a sorte. Os amigos do espaço, diante desse pedido, oferecem-lhe um outro modo de resgatar o seu passado delituoso: MEDIUNIDADE. 

Passados mais de 30 anos, os benfeitores do espaço, precisando de alguém para tratar de um caso de obsessão, não o acham em serviço. 

Conclusão: “Aquele espírito valoroso que pedira lepra, cegueira, loucura, idiotia, fogo, lágrimas, penúria e abandono, a fim de desagravar a própria consciência, no plano físico, depois de acomodar-se nas concessões do Senhor, esquecera todas as necessidades que lhe caracterizavam a obra de reajuste e preferia a ociosidade, enquadrado em pijama, com medo de trabalhar”. 

Recebido um conhecimento espiritual, contraímos uma dívida, ou seja, a responsabilidade de o passar para os outros irmãos de jornada. Guardá-lo somente para nós é puro egoísmo. Lembremo-nos de que deveremos prestar contas das dádivas divinas (conhecimento, riqueza e talento) postas em nossas mãos. Elas nos foram emprestadas para ajudar o progresso da humanidade e não para servir aos nossos prazeres mundanos. 





29 maio 2013

Coação

Coação é ação ou efeito de coagir. Exigência, imposição, emprego de meios coercitivos. É o uso da força a fim de impor o respeito pela ordem jurídica.

coação ou violência pode ser exercida por um dos contraentes ou por terceiro. Divide-se em física e moral.  A coação física (vis absoluta) consiste em maus tratos físicos, ofensas corporais, sequestros etc. A coação moral (vis compulsiva) é constituída pela ameaça de um mal que recairá sobre o outro contraente ou sobre terceiro; é exercida por qualquer meio de intimidação psíquica.

Os requisitos necessários para que uma ameaça seja coação são:

a) que a ameaça seja verdadeira e séria, e não apenas suspeita; 

b) que seja ilícita, e não legitimamente empregada; 

c) que o mal seja grave, isto é, que importe um dano superior ao do próprio consentimento; 

d) que o temor seja razoável, quer dizer, que o medo esteja em proporção com a resistência da pessoa ameaçada;  

e) que exista um nexo de causalidade entre a ameaça e o consentimento, ou seja, que aquela tenha sido empregada para extorquir este.

Em se tratando dos nossos relacionamentos, convém verificar se não estamos coagindo alguém ou sendo coagido por alguém. Em religião, costuma-se persuadir pela palavra, que muitas vezes não passa de uma coação implícita. Nesse mister, há muito fundamento na frase: “Todos são inocentes até serem pegos”. Quer dizer, quantos não praticam atos ilícitos e ficam à margem da punição, porque nunca foram descobertos?

Na Doutrina Espírita não há imposição de seus princípios. O Espiritismo fundamenta-se na liberdade de consciência. Em suas obras básicas e complementares, há a explicitação da lei de ação e reação ou de causa e efeito. Refletindo sobre as consequências apontadas (em virtude de determinados atos), podemos praticar ou deixar de praticá-los. 

Fonte de Consulta 

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].





Ontologia, Ontoteologia e Espiritismo

Ontologia é a teoria dos entes, ramo da metafísica que se interessa pela natureza do ser. “Ente” representa todas as coisas sobre as quais se pode dizer que são. Nesse caso, a ontologia é a teoria do ser enquanto tal. Ontoteologia é a teoria do ser divino. O “onto”, que se refere ao ente (ou ao ser); o “teo”, que se refere a Deus (ou aos deuses); o “logos”, que se refere ao saber, ou ao saber enquanto “falar”. 

A tarefa da ontologia é perguntar pelas características básicas que tornam possível dizer que algo ou um estado de coisas, um evento, é. O problema ontoteológico surge quando Heidegger questiona esses termos ao verificar que Hegel equipara “Ser” com “a Ideia Absoluta”. A estrutura “ontoteológica” da metafísica tem de revelar por que entraram na filosofia Deus e o Ser, e, além disso, por que se apresentam como “objetos” do “logos”, com o sistema articulado de saberes. (2)

Na história da filosofia, observamos as dificuldades para se explicar a relação mente-corpo. A teoria do ser tem sua síntese na filosofia espírita, quando pela revelação e pela cogitação surge, além do Espírito e da Matéria, o termo “Perispírito”. Quer dizer, ao se introduzir o conceito de perispírito, eliminamos a dualidade existente entre mente e corpo. Nós somos um Espírito (Espírito + perispírito + corpo físico) que, momentaneamente, está habitando um corpo de carne.

Na ótica espírita, a ontoteologia pode ser vista da seguinte forma: para Aristóteles, o Ser é “aquilo que é”. Na Bíblia é Deus quem fala, embora figuradamente, e se explica: “Eu sou o que é”. Deus é e se afirma na intuição cartesiana de Um Ser supremo, como se afirma no sentimento intuitivo kardeciano. Na Filosofia Espírita o conceito de Ser abrange todas as categorias daquilo que é, concordando portanto com o pensamento filosófico antigo e moderno.

A definição do Ser supremo está posta na pergunta 1 de O Livro dos Espíritos: “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. Em termos didáticos, dizemos: Deus é a causa primária de todas as coisas. Dele vertem-se dois princípios: material e espiritual. O principio espiritual individualizado torna-se espírito; a individualização do principio material dá origem à matéria. No ser humano, para haver a ligação entre espírito e matéria, há necessidade de um intermediário, o perispírito. 

Os seres têm essência e essa essência se desenvolve através da evolução: é o princípio inteligente. No ser humano, essa realidade se apresenta no complexo Espírito, Perispírito e Matéria. Entre os dois últimos existe ainda o fluido vital. Toda essa complexidade, entretanto, é simplesmente a expressão  pluralista de um monismo fundamental. A essência é que tudo domina. Ela é a realidade última. Mas só através da existência conseguimos atingi-la.

Tenhamos em mente que a essência do Espírito é indestrutível, pois representa a atualização das potencialidades do princípio inteligente, uma criação de Deus para fins que ainda desconhecemos.

Fonte de Consulta

(1) CASTRO, Susana de. Ontologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2008 (Filosofia passo-a-passo, 83) 

(2) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004. 

(3) PIRES, J. Herculano. Introdução à Filosofia Espírita. São Paulo: Paideia, 1983. 







01 maio 2013

Laços de Família

O termo “laços” tem inúmeras interpretações tanto na mitologia quanto na iconografia. Para o nosso propósito, os laços devem ser vistos como os compromissos contraídos espontaneamente. Assim, podemos entender por laços de família, os compromissos contraídos pelos Espíritos de viverem em determinadas famílias que, segundo o Espiritismo, podem ser de duas espécies: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais.

Convém ressaltar que há uma diferença fundamental entre os laços da família material e os da família espiritual. Os laços das famílias espirituais se fortalecem pela purificação das almas e se perpetuam no mundo espiritual, principalmente pelas reencarnações sucessivas. Os laços das famílias materiais são frágeis e se extinguem com o tempo. Muitas vezes na presente encarnação.

No mundo espiritual, os Espíritos formam famílias unidas pela afeição, pela simpatia e semelhança de inclinações. De acordo com essas afinidades, os Espíritos se atraem para viverem conjuntamente. Nesse contexto, a encarnação de um de seus membros não corta esse laço familiar. A ruptura é momentânea. Depois de passar pela prova em uma nova reencarnação, ele volta para o seio de sua família espiritual. É como se fosse o retorno de uma viagem. Os que estão desencarnados velam pelos que estão no mundo da matéria.

O estudo de "os laços de família" permite entender a simpatia e a antipatia que existe entre os cônjuges. De acordo com as vivências passadas (outras encarnações), os Espíritos podem ter sido muito amigos ou estranhos entre si. Quando muito amigos, acabam gerando simpatia entre eles. No caso de serem estranhos, geram a antipatia. Daí, concluirmos que os verdadeiros laços de família não são os da consanguinidade, mas os de simpatia e da comunhão de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e após a encarnação.

Numa crise familiar, o princípio da reencarnação assume papel fundamental. Ele convoca os interessados a refletirem sobre um novo campo de observações, impelindo-os à tolerância, sem a qual não conseguirão o entendimento para cumprir a missão pela qual se propuseram a realizar neste planeta de provas e expiações.

Cabe lembrar, também, que a não-reencarnação traz graves consequências para os laços de família. A não-reencarnação anula a preexistência da alma. Alma e corpo são criados ao mesmo tempo. Não existe afinidade anterior entre pais e filhos. A filiação reduz-se unicamente ao laço corporal, sem nenhum laço espiritual.

Procuremos, assim, sob a luz de Jesus, fortificar cada vez mais os nossos laços familiares. O esforço de hoje, para vencer uma crise momentânea, pode nos propiciar muitos anos de felicidade no futuro próximo.






17 abril 2013

Sangue: Ritual e Simbologia

sangue é um líquido vermelho que percorre o sistema circulatório e irriga todos os tecidos do organismo dos vertebrados. Tornou-se, ao longo do tempo, material para os rituais nas religiões. Dos rituais advém, também, toda uma simbologia a respeito da sua dor vermelha. Embora tenha um valor positivo, essência da vida, há povos primitivos que o veem como profanador: mulheres menstruadas ou as que haviam dado à luz um filho eram submetidas a determinados ritos de purificação e mantidas incomunicáveis.

Em termos históricos, os gregos derramavam sangue na sepultura dos mortos para dar força vital às sombras, os médiuns de diversos povos bebiam sangue para entrar em êxtase. Nos cultos a Cibele e a Mitra os neófitos eram batizados nos mistérios com sangue de touros sacrificados, considerado purificador e nutriente.

Há uma relação estreita entre sangue e carne. No Antigo e no Novo Testamento, este par de termos designa o homem falível em oposição ao homem de fé. Para o ser humano, o sangue é um elemento vital, pois morre quando este lhe falta. Em termos sagrados, o sangue corresponde à “alma”. Conforme a Bíblia, era proibido comer sangue, pois se é Deus quem dá a vida só ele a pode retirar.

O sangue é a essência da vida e simboliza todos os valores solidários com o fogo, o calor e o Sol. Daí, a sua associação com os valores do belo, do nobre, do generoso e do elevado. O sangue é representado por substâncias que reproduzem sua cor, assim como o ocre, para simbolizar a vida que continua.

O sangue de Cristo, como um dos sacramentos eucarísticos, ocupa uma posição central na Igreja: carne é o pão; o sangue, o vinho. Simbolicamente, o vinho misturado com água significa a Igreja, que se une inseparavelmente com a água dos fiéis e gera uma unidade com Cristo: os membros da Igreja são impregnados da força purificadora e redentora do sangue do Salvador. Lembremo-nos de que o sangue de Cristo é uma força de penitência e redenção.

Há muitas frases e expressões idiomáticas que pronunciamos sobre o sangue. Eis algumas delas: “irmãos de sangue”, “batismo de sangue”, “ter sangue quente”, “algo está no sangue”, “ter sede de sangue”, “conservar o sangue frio”.

Fonte de Consulta

BIEDERMANN, Hans. Dicionário Ilustrado de Símbolos. Tradução de Glória Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 1993.

CHEVALIER, J. e GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1998. 

ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

LEXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos. Trad. Erlon José Paschoal. São Paulo: Cultrix, 1997.





12 março 2013

Meu Reino não é deste Mundo

O objetivo deste tema é mostrar que a essência da vida está além da existência física. A palavra “reino” evoca a ideia de rei, reinado, pessoa poderosa, senhor de muitos domínios e muitos súditos. Ao tratarmos de “meu reino não é deste mundo”, tentemos diferenciar o mundo material do mundo espiritual.

Pilatos, tornando a entrar, pois, no palácio, e tendo feito vir Jesus, lhe disse: Sois o rei dos Judeus? Jesus lhes respondeu: Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, minhas gentes teriam combatido para me impedir de cair nas mãos dos Judeus; mas meu reino não é daqui: Pilatos, então, lhe disse: Sois, pois, rei? Jesus lhe replicou: Vós dissestes: eu sou rei; eu não nasci e nem vim a este mundo senão para testemunhar a verdade; qualquer que pertença à verdade escuta a minha voz. (João, cap. XVIII, v. 33, 36 e 37)

Para bem compreendermos este texto evangélico, convém lembramos, mesmo que sucintamente, dos termos “judaísmo”, “cristianismo” e “Espiritismo”. No judaísmo, o povo judeu é o povo eleito para cumprir uma missão universal: a da aliança de Deus com a humanidade. No Cristianismo, Jesus Cristo é o eixo norteador dos Evangelhos. No Espiritismo, Allan Kardec é codificador que, auxiliado pelos Espíritos iluminados, desvenda-nos os mistérios do Consolador Prometido.

O princípio da vida futura pode ser assim sintetizado: os judeus tinham ideias muito vagas acerca da vida futura. Eles acreditavam nos anjos, mas não tinham conhecimento de que eles mesmos poderiam, no futuro, vir a ser anjos. Jesus Cristo coloca a vida futura como um dogma central de seus ensinamentos. Por isso, não se dizia rei deste mundo. Para o Espiritismo, a vida futura é uma realidade baseada em fatos, fatos estes mostrados pelos próprios Espíritos desencarnados. 

A realeza de Jesus representa o esforço na prática do bem, na paciência ante os infortúnios. A crença na vida futura muda o ponto de vista que se tem da vida presente. Pensa-se a encarnação como uma passagem, uma transição para o verdadeiro mundo, o mundo espiritual. Nesse caso, a dor e o sofrimento têm curta duração; a abnegação, a humildade e a caridade tornam-se preocupações relevantes: não se pergunta a posição que uma pessoa ocupa, mas as lágrimas que procurou enxugar.

Enalteçamos a vida futura, mas não nos esqueçamos de viver plenamente o dia que passa, pois é este que prepara um porvir bom ou ruim.