30 novembro 2011

Hipocrisia

"Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia." (Arthur Schopenhaeur)

Hipocrisia é o vício que consiste em aparentar uma virtude ou um sentimento que não se sentem. É, também, fingimento, falsidade, falsa devoção. A hipocrisia revela as convicções inconsistentes do hipócrita. Os pontos de vista expressos dos hipócritas entram em conflito com as convicções implícitas demonstradas por seu comportamento.

Hipocrisia é ensinar o que não se sabe. Quando assim agirmos, caímos na frase lapidar de Jesus: "Túmulos caiados por fora, guardando restos putrefatos e fétidos por dentro". Hipócrita é aquele que ora querendo se sobressair ante os defeitos dos outros. Em sua jornada terrena, Jesus não se cansou de criticar a hipocrisia dos fariseus. Como prova de sua missão divina, apresenta-lhes a cura de um cego de nascença e a ressurreição de Lázaro

A hipocrisia dos opositores serve para fortificar a Doutrina Espírita. Em sua mensagem pós-túmulo, Allan Kardec lembra-nos da sua convicção sobre os princípios fundamentais do Espiritismo. Tendo uma visão mais acurada, acha que tanto a benevolência, a boa-vontade e o devotamento de alguns, como a má-fé, a hipocrisia e as maldosas manobras dos outros, servem para fortificar o edifício doutrinário. Ele afirma: "Nas mãos das potestades superiores, que presidem a todos os progressos, as resistências inconscientes ou simuladas, os ataques visando semear o descrédito e o ridículo, se tornam elementos de elaboração".

Vários pensadores também tratam do tema hipocrisia.

Rousseau, em A Nova Heloísa (1761), exalta o direito da paixão, mesmo quando ilegítima, contra a hipocrisia da sociedade. A mentira seria um produto social. É romance filosófico que exalta a pureza em luta contra uma ordem social corrompida e injusta.

Michel de Montaigne, em seus Ensaios - Da Vaidade, procura visualizar a hipocrisia do ser, quando os filósofos propõem regras que excedem a nossa prática e as nossas forças. Ele diz: “Vejo frequentes vezes proporem-nos modelos de vida que nem quem os propõe nem os seus auditores têm alguma esperança de seguir ou, o que é pior, desejo de o fazer. Da mesma folha de papel onde acabou de escrever uma sentença de condenação de um adultério, o juiz rasga um pedaço para enviar um bilhetinho amoroso à mulher de um colega”.

La Rochefoucauld, em Reflexões, critica a hipocrisia do conselho. Ele diz:

“Nada é mais hipócrita do que pedir ou dar conselhos. Quem pede, parece ter um respeito venerando pelos sentimentos do amigo a quem os pede, mas, no fundo, quer é fazer aprovar os sentimentos próprios e, assim, tornar o outro responsável pela sua conduta. Por outro lado, o que presta os conselhos retribui a confiança que lhe é dada, com um zelo ardente e desinteressado, apesar de, quase sempre, querer, através dos conselhos que dá, satisfazer os seus interesses ou a sua glória”.

...

"A hipocrisia dos religiosos que 'desfiguram o rosto com o fim de parecerem aos homens que jejuam', tem feito maior mal ao homem do que todas as teorias materialistas reunidas!" (Capítulo 2  "Aparência não Basta", de Jugo Leve, de Carlos A. Baccelli, pelo Espírito Inácio Ferreira [2012])





22 novembro 2011

"Homo Novus", Cérebro Novo

De acordo com Krishnamurti, em O Mistério da Compreensão, o cérebro se torna novo quando há uma distância entre um fato e a reação do sujeito em relação a este mesmo fato. Quando reagimos imediatamente, estamos apenas confirmando o nosso ponto de vista, as nossas opiniões, o nosso preconceito, a nossa superficialidade. Para que um cérebro se torne novo, devemos conceder-lhe um tempo para refletir, para pensar, para sopesar, para meditar.

O cérebro novo requer que olhemos para as mesmas coisas, mas sem pressa, sem querer resolver instantaneamente aquilo que se nos apresentou. O tempo que damos, entre uma sensação e sua avaliação, transforma um ato fragmentário num ato total, aquele que pertence ao todo do indivíduo. Em se tratando do homem, e olhando-o sob a perspectiva do todo, não existe o brasileiro, o norte-americano, o chinês, porque todos os indivíduos fazem parte da espécie humana.

Como transformar, então, o homem velho no homem novo de que nos reporta o evangelho? Buscando refletir sobre o velho, sem o intuito de mudá-lo bruscamente. Quando a vontade age, ela fragmenta o próprio homem. Eu quero me tornar perfeito, eu quero ser grande e mundialmente reconhecido, eu quero que as coisas saiam sempre ao meu gosto. Nesse caso, há uma imposição sobre uma ideia, sobre um comportamento, sobre uma atitude. Essas resoluções não nos deixam espaço para outras acepções, as acepções do homo novus de que nos fala Paulo nas suas pregações.

O cérebro velho está acostumado com um tipo de resposta, com um tipo de comportamento. O novo causa-lhe incômodo. Quando propomos ao cérebro outro tipo de resposta, fazemo-lo agir em nosso benefício. Façamos uma analogia com a prece, cujos estímulos enviamos a Deus, com a intenção de nos livrarmos de alguma dificuldade, de algum problema. Na realidade, esses estímulos enviados a Deus não modificam o problema, a dificuldade, mas fazem-nos pensar de forma diferente a respeito de uma dada dificuldade. Este é o homem novo com cérebro novo.

O cérebro é o repositório dos conhecimentos, adquiridos ao longo do tempo. Para que ele se torne novo, jovial, leve e solto, é necessário que evitemos entulhá-lo com coisas superficiais e insignificantes.