09 março 2011

Exorcismo e Espiritismo

Segundo a maioria das religiões cristãs, o demônio é um ser espiritual de natureza angélica condenado eternamente, por ter desobedecido a Deus. A possessão, por sua vez, é o fenômeno pelo qual um espírito do mal reside em um corpo e em determinados momentos pode falar e se mover por meio desse mesmo corpo, sem que a pessoa possa evitá-lo. O exorcismo é aplicado sobre os demônios e os possessos.

Para a religião cristã, o exorcismo é o rito de ordenação ao demônio para que saia do corpo de um homem possuído. Os teólogos distinguem entre “exorcismos ordinários” e “exorcismos extraordinários”. Os primeiros fazem parte da liturgia, no batismo solene, consistindo em oração e cerimônias simbólicas. Os exorcismos extraordinários têm por fim a libertação de um possesso. A essência do exorcismo é a conjuração (frases, fórmulas e ladainhas), ou seja, a ordem dada ao demônio em nome de Jesus a deixar o corpo.

Para o Espiritismo, possessão é sinônimo de subjugação, ou seja, o Espírito comunicante toma por assim dizer o corpo do médium, sem que o seu dono o abandone. Ela é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado. Pode-se dizer que a possessão designa os casos mais graves de obsessão.

A prece sempre auxilia, mas não resolve o problema. Allan Kardec, na Revista Espírita de 1860, diz-nos que não há “nem palavras sacramentais, nem formas cabalísticas, nem exorcismos que tenham a menor influência; quanto mais são maus, mais se riem do terror que inspiram, e da importância que se dá à sua presença; divertem-se em se ouvir chamar diabos e demônios, por isso se dão seriamente os nomes de Asmodée, Astaroth, Lúcifer e outras qualificações infernais aumentando as malícias, ao passo que se retiram quando veem que perdem seu tempo com pessoas que não são seus patetas, e que se limitam a chamar, sobre eles, a misericórdia divina”.

Para o tratamento da obsessão, a maioria dos Centros Espíritas dispõe de trabalhos de desobsessão, em que os Espíritos do mal são doutrinados, para que possam mudar de caminho, ou seja, passarem a praticar o bem.





08 março 2011

Corrupção e Espiritismo

Corrupção. Do latim corruptione significa a ação ou o efeito de corromper. Na ordem física, é um fenômeno de involução dos entes materiais. Para Aristóteles, é o contrário de geração. Psicologicamente, denota um estado desordenado e patológico da consciência que leva o indivíduo livre a exercer o mal ou o pecado. Em termos políticos, é a falta de honestidade que acompanha o desempenho de determinadas funções administrativas. Ao longo do tempo, o sentido metafórico sobrepujou o sentido restrito.

A palavra corrupção teve sua primeira designação num contexto biológico e naturalista, sendo associada a um dos momentos do clico da vida, justamente quando o corpo começa a perder o seu vigor, sua força, sua vitalidade e caminha para a morte. Passou, depois, para as cidades, porque os filósofos as entendiam como corpos naturais.

Na época em que os cristãos projetaram o pecado e a decadência humana sobre a sociedade romana pagã, a corrupção passou para a noção moral. Esta imagem foi extraída dos escritos dos Padres da Igreja, que entendiam a atuação dos governantes como contrária ao que o Cristo nos ensinou. Santo Agostinho, na sua obra Cidade de Deus, foi um dos que defendeu a ideia de que a queda do Império foi motivada pela corrupção moral dos romanos.

Segundo Martins, em Corrupção, há duas maneiras de interpretar este termo: de um lado está a maneira moralista impingida pelos cristãos, que viam no indivíduo a decadência moral, o que gera consequências nefastas para a sociedade. Do outro, principalmente pela influência de Maquiavel, a corrupção como algo resultante das regras próprias do mundo político, sem maiores correlações com a moralidade do indivíduo.

O discípulo do Evangelho não necessita de participar da política do mundo para cumprir o seu ministério. Lembremo-nos de que Jesus não precisou de portarias e decretos, embora respeitáveis, para consolidar a sua missão de amor ao próximo. Nesse mister, o Espírito Emmanuel alerta-nos: “E, quando convocado a tais situações pela força das circunstâncias, deve aceitá-las não como galardão para a doutrina que professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil”. (pergunta 60 de O Consolador)

No capítulo sobre As Aristocracias, em Obras Póstumas, Allan Kardec ensina-nos que as sociedades nunca prescindiram de chefes. Para refrear a corrupção e melhorar o relacionamento político, ele propõe a formação de uma aristocracia intelecto-moral, ou seja, os governantes devem ser inteligentes e de moral elevada para se posicionarem acima dos interesses pessoais e de grupos e se lançarem ao alcance do bem comum, que é de todos.

Diante da corrupção, o espiritista deve ter em mente as assertivas do Evangelho. Não é porque a corrupção se tornou lugar comum, que ela não deva ser extinta. Se partir do princípio que não deve dar dinheiro para conseguir um serviço público, achará mil maneiras de resolver a sua demanda.

Bibliografia Consultada

KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1975.

MARTINS, José Antonio. Corrupção. São Paulo: Globo, 2008. (Filosofia Frente & Verso)

XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977.




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Nas Instruções dos Espíritos ("Os Messias do Espiritismo") do mês de fevereiro da Revista Espírita de 1868, encontramos:

“A corrupção dos costumes, as desgraças que serão a consequência do desencadeamento das paixões, o declínio da fé religiosa serão os sinais precursores de seu advento.

A corrupção no seio das religiões é o sintoma de sua decadência, como é o da decadência dos povos e dos regimes políticos, porque ela é o indício de uma falta de fé verdadeira; os homens corrompidos arrastam a Humanidade para um despenhadeiro funesto, de onde ela não pode sair senão por uma crise violenta. Dá-se o mesmo com as religiões que substituem o culto da Divindade pelo culto do dinheiro e das honras, e que se mostram mais ávidas dos bens materiais da Terra do que dos bens espirituais do Céu”.

Fénelon — Constantina, dezembro de 1861


07 março 2011

Mundo Material e Mundo Espiritual

Na concepção clássica, o mundo é o sistema harmônico composto pela Terra e os astros. Em termos geográficos, o mundo é a Terra. Em sentido mais amplo, o mundo é tudo aquilo que existe, o próprio Universo.

Para o Espiritismo, o mundo material refere-se à habitação de Espíritos falidos, sujeitos à encarnação humana. São mundos transitórios, efêmeros, em que a matéria que vemos é de ínfima importância no Universo, mas de grande utilidade para a evolução dos Espíritos que ali estejam encarnados. O que vemos é temporário; o que não vemos eterno. Pode-se dizer que o mundo material ou corporal é composto de Espíritos encarnados.

mundo espiritual, por sua vez, é composto de diferentes planos, expressando os diversos graus de adiantamento. O mundo corporal poderia deixar de existir sem que isso alterasse a essência do mundo espiritual, o verdadeiro mundo. Esses mundos são classificados de acordo com a evolução alcançada pelo Espírito. Há, assim, o mundo de provas e expiações, o mundo de regeneração, o mundo ditoso, o mundo celeste etc.

A influência do mundo espiritual sobre o mundo material é feita através da mediunidade, em que há ideias lançadas pelos Espíritos desencarnados e captadas pelos Espíritos encarnados. Exemplo: quando o Espírito André Luiz dita uma obra ao médium, no caso Chico Xavier, ele está indiretamente influenciando todos os encarnados que tomarem conhecimento de sua exposição.

Os Espíritos influem, muito mais do que imaginamos, sobre os nossos pensamentos e as nossas ações. Estamos sempre entre as sugestões do bem e as do mal. Cabe-nos saber diferenciar entre as boas inspirações daqueles Espíritos que nos impulsionam às virtudes e as daqueles outros que nos induzem aos vícios. Deus, muitas vezes, permite que os Espíritos nos incitem ao mal para provar a nossa fé. Devemos ter consciência de que sempre que um Espírito inferior está nos influenciando, fomos nós que o chamamos, pelo desejo do mal. Eles não podem ajudar-nos no mal, a não ser que o desejemos cometer.

Para neutralizar a influência dos Espíritos imperfeitos, façamos o bem e coloquemos toda a nossa confiança nas mãos de Deus. Guardemo-nos de ouvir os Espíritos que nos suscitam maus pensamentos, que insuflam a discórdia e excitam em nós todas as más paixões.

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"Com a colaboração dos pensadores eminentes dos dois mundos, das duas humanidades, é que alcançaremos as mais altas verdades, ou pelo menos chegaremos a entrevê-las, e que serão estabelecidos os mais nobres princípios. Muito melhor e com muito mais segurança do que os nossos mestres da Terra, os do espaço sabem pôr-nos em presença do problema da vida e do mistério da alma e, igualmente, ajudar-nos a adquirir a consciência da nossa grandeza e do nosso futuro". (Primeira parte — "O problema do ser", item II — "O critério da Doutrina dos Espíritos", do livro O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis.

 

02 março 2011

Natureza Humana e Dever

natureza em geral significa o conjunto de coisas (reino animal, mineral e vegetal) que obedece a leis gerais. Num sentido mais especializado, conjunto do que Deus criou ou numa perspectiva não cristã, de tudo o que existe. A natureza de um ser é o princípio que dirige o seu desenvolvimento. É a essência, ou seja, conjunto das características que definem um ser conforme a sua espécie. É aqui que se evoca a natureza humana. Num sentido mais particular, diz respeito às características próprias de um indivíduo, que o distinguem dos outros. É sinônimo de caráter ou de temperamento.

Dever. No sentido habitual do verbo, o que deve ser, ou ser feito. Há que se distinguir, conforme Kant, uma ação empreendida conforme o dever da feita “por dever”. Na ação feita conforme o dever não há esforço da criatura; na feita “por dever”, sim, pois aqui ela luta contra as suas próprias inclinações.

A natureza pode ser considerada um princípio normativo. À medida que cada indivíduo tenta realizar a sua essência, ele se depara com outras essências. Daí, a necessidade de obedecer às leis naturais (universais). Nesse caso, a lei humana é apenas uma imitação, uma particularização dessa lei maior.

Há íntima relação entre natureza humana e cultura. O ser humano sempre questionou a sua origem. Na antiguidade, situava-se entre os deuses e os animais. Depois da descoberta da teoria da evolução, no século XIX, percebeu-se como um elo do reino animal, sendo a espécie mais perfeita, porque pode passar do simples instinto para o comportamento refletido. Tudo isso se deve à cultura

A natureza humana é sociável. Aristóteles, na antiguidade, já definia a ser humano como um animal social, devendo viver em comunidade. É na sociedade que aprendemos determinada maneira de viver, adquirimos valores e costumes. Embora de forma conflitiva, é socializando-nos que nos humanizamos. De acordo com Husserl: “O sentido da palavra ‘homem’ implica uma existência recíproca de um para o outro”.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo (item 7, do capítulo XVII), de Allan Kardec, há algumas instruções dos Espíritos sobre o dever. Nessa passagem, diz-nos que o dever é uma obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em seguida. É a lei da vida que se encontra tanto nos pequenos como nos grandes atos. Lembra-nos de que na ordem dos sentimentos, acha-se em antagonismo com os interesses do coração. Para saber onde começa e onde termina, ele nos alerta: “O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade de vosso próximo; termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós mesmos”.

Em virtude da complexidade da cultura e da civilização, o dever deve sempre crescer. Significa que, conforme os anos passam, a criatura humana vai absorvendo novas formas de progresso moral e espiritual e, com isso, ampliando os seus deveres junto à sociedade.