26 março 2010

Não Julgueis para não Serdes Julgados

Julgar é formar opinião a respeito de si mesmo, das pessoas e das coisas. Julgamento é a ação ou o efeito de julgar por parte de juiz. Diz-se do exame de Deus a ações dos homens, recompensando-os ou punindo-os: Deus, no fim do Mundo, julgará vivos e mortos. Para muitos religiosos, a fé no julgamento de Deus é um dado fundamental, que jamais se põe em dúvida.

Na continuação do Sermão da Montanha, Jesus, em Mateus, 7, 1 a 5, diz: "Não julguem, e vocês não serão julgados. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho? Ou, como você se atreve a dizer ao irmão: 'deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando você mesmo tem uma trave no seu? Hipócrita, tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem para tirar o cisco do olho do seu irmão."

Estamos acostumados, desde a época de Aristóteles, a pensar de forma dicotômica: certo/errado, justo/injusto, preto/branco etc. Esta visão de mundo condicionou-nos a raciocinar pelos extremos. Há dificuldade de vermos que o inimigo não é necessariamente inimigo e o amigo não é exclusivamente amigo. Há momentos em que cada um deles age como se fosse o oposto. Por isso, a necessidade de pensarmos globalmente, ou seja, além dos rótulos corriqueiros. Observe o remédio: os de sabor amargo podem curar mais rapidamente uma doença.

O endeusamento do eu caracteriza o egocentrismo que humanidade vem alimentando desde longo tempo. Buda, na sua época, já nos alertava sobre essa postura humana e nos exortava a deixar a ilusão do mundo para que pudéssemos penetrar no Nirvana. A defesa do eu comprova o quanto ainda estamos distantes do verdadeiro julgamento, porque, em primeiro lugar, está o nosso interesse e não o interesse do outro. Não é sem razão que os Espíritos superiores afirmam ser o egoísmo a principal chaga da sociedade.

não-eu é o esforço que fazemos para suprimir o nosso julgamento. Descartemos, assim, a pequenez de nossa individualidade. Se conseguíssemos expandir a nossa percepção para além do sensível, para além do dia-a-dia, para além da técnica e do conceitual, teríamos melhorado sensivelmente o nosso julgamento. Por que sempre estamos com a verdade e o outro em erro? Há bilhões de seres pensantes sobre a Terra e só nós temos razão. Não há um viés do pensamento?

“Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. É a passagem do Evangelho em que os escribas e os fariseus levam até Jesus uma mulher que fora pega em adultério. Segundo a lei de Moisés, ela devia ser apedrejada. Jesus, porém, disse: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra. E tornando a abaixar-se, escrevia na terra. Mas eles, ouvindo-o, foram saindo um a um, sendo os mais velhos os primeiros. E ficou só Jesus com a mulher, que estava no meio, em pé. Então, erguendo-se, Jesus lhe disse: Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Nem eu tampouco te condenarei; vai, e não peques mais”. (João, VIII: 3-11). Aí está o princípio da indulgência, em que não devemos condenar nos outros o que nos desculpamos em nós.

Diz-se que todos os que foram condenados à estagnação foram mal amados. Observe algumas frases que repetimos insistentemente: “Não suporto aquele sujeito”; “Com aquele nada feito”; “No ponto em que ele já está”; “Ninguém conseguiu nada dele”; “É inútil perder tempo”; “Já tentei tudo”. Todos esses julgamentos podem ser modificados. Poderíamos pensar no poder infinito de Deus, dizendo: “A Deus tudo é possível”.

Suprimamos o julgamento apressado das pessoas e das coisas. Talvez tenhamos tentado todos os sistemas e todos os métodos. Que tal verificarmos, também, se amamos gratuitamente o nosso próximo, sem esperarmos qualquer tipo de recompensa?

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/n%C3%A3o-julgueis-para-n%C3%A3o-serdes-julgados


 


03 março 2010

Entorpecimento das Habilidades Espirituais

“Nunca há suficiente tempo para fazer tudo o que se deseja, mas bastante para fazer as coisas importantes.”

Vários pensadores contemporâneos vêm detectando uma apatia espiritual que domina o mundo. Eles dizem que esse entorpecimento de perceber a transcendência do ser é um tipo de doença ou miopia cultural, uma das questões centrais de nossa época. As pessoas, seduzidas pelo sistema de valor de consumo, acabam se desmoralizando eticamente. Isso faz com que não contemplem uma “ordem mais ampla do Ser”. Há, assim, uma necessidade premente da “limpeza das portas da percepção”.

Para despertar esse embotamento espiritual, é importante que o ser humano se dedique a limpar as portas de sua percepção. Para isso, ele tem que desenvolver o seu lado moral, espiritual e religioso. No hinduísmo, o estado entorpecido é um tipo de ilusão (maya); no budismo, é a ignorância (avidya), em que o indivíduo perde o senso da realidade última e se dedica inteiramente à realidade parcial, como se fosse a realidade última.

Todas as tradições espirituais divulgam ensinamentos úteis ao despertamento do ser para uma realidade maior. Nesse sentido, cada um de nós deveria sempre pensar além da tribo, do povo, da humanidade e da própria natureza, a fim de se aproximar dessa realidade última. John Hick, filósofo e estudioso das religiões, por exemplo, afirma que as várias tradições religiosas do mundo compartilham um senso de transcendência, em que há a substituição do sentimento egoísta por uma devoção que produz compaixão e amor para com os outros seres humanos.

A visão de mundo de cada ser humano é sumamente importante para propiciar esse despertamento. Os textos religiosos, do passado e do presente, podem nos ajudar nesse objetivo. Paulo, em suas prédicas evangélicas, diz-nos que devemos morrer para nós mesmos de modo que Cristo possa viver em nós. Na mesma linha de pensamento, o budista, para atingir o Nirvana, diz que não devemos nos fixar a nada a não ser à estranha e vazia “existência em si” de toda a realidade.

No Espiritismo, há uma quantidade imensa de escritos, em forma de textos e mensagens, no sentido de despertar o ser humano para o mundo espiritual, o verdadeiro mundo. O Espírito Emmanuel, pela pena de Chico Xavier, leva-nos a descortinar novos horizontes, novas maneiras de pensar e de nos relacionarmos com os semelhantes e o meio ambiente que nos envolve. Refletindo sobre as suas mensagens, vamos nos fortalecendo moral e espiritualmente.

É importante que estejamos sempre nos despojando das coisas inúteis, daquilo que pode dificultar a nossa passagem para os mundos superiores. Entremos pela "porta estreita" e não pela "porta larga" da perdição.