02 julho 2008

Pecado e Espiritismo

Pecado- do lat. peccatum significa transgressão de preceito religioso. Pecador - aquele que comete uma ofensa a Deus. A relação entre pecado e pecador depende do conteúdo de conhecimento que cada um tem com relação às leis naturais. Para os que ignoram a lei, o pecado inexiste, porque não lhes vêm à tona que podem estar em erro. Por isso, há grande dificuldade em julgarmos a conduta alheia, porque quando julgamos, julgamos segundo as nossas limitações pessoais.

A confissão do pecador é bastante útil. Não, porém, da forma auricular, que acaba tornando-se um martírio para a religiosa católica, que imbuída da espiritualidade que lhe é própria, tem que se sujeitar a revelar os seus segredos íntimos aos padres solteiros. Vale lembrar que a confissão na antiguidade tinha outro móvel, pois quando se pronunciava publicamente os pecados era para não mais cometê-los. Na visão moderna, confessar-se uns aos outros é ir até o ofendido e pedir-lhe desculpas pelo agravo cometido.

Digno de nota é o episódio da mulher adúltera. Ao pretenderem apedrejá-la, Jesus argui: "Quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra?" Depois que todos se retiraram, Jesus a sós com a mulher, disse-lhe: vá e não peques mais. O apóstolo João não se conformando com a absolvição da pecadora, pede explicações ao Mestre. Jesus lhe diz: por acaso sabes o que se passa no coração do próximo? Quantas não são as vicissitudes que está passando essa mulher? Acusá-la não será aumentar a sua chaga? É lógico que não devemos ser coniventes com o mal, mas a razão suprema nos induz a perdoar sempre.

O perdão auxilia a libertação do pecador. Jesus dissera que devíamos perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes; quer dizer, indefinidamente. Mas por que perdoar? O Espírito Humberto de Campos, no capítulo 10 do livro Boa Nova, psicografado por Francisco Cândido Xavier, dá-nos algumas orientações, quando narra o diálogo entre Felipe e Jesus. Na ocasião Felipe indaga sobre o perdão, e o Mestre elucida: mas, não será vaidade exigirmos que toda a gente faça de nossa personalidade elevado conceito? Felipe, sabes de algum emissário de Deus que fosse apreciado em seu tempo?

A vitória sobre o pecado exige luta constante. A lei de renovação modifica o rumo de nossa vida. Os antigos ideais, os sonhos sensíveis perdem-se nas brumas do tempo. Acabamos presos da solidão ao meio da multidão. Muitos, no meio desses supremos instantes de dor, desanimam-se e voltam-se para as zonas inferiores. Contudo, os que perseveram experimentarão a resistência até o sangue. Nesse sentido, confessar-nos publicamente os nossos erros é fácil, outra coisa é realizarmos a obra de elevação de nós mesmos, valendo-nos da autodisciplina, da compreensão fraterna e do espírito de sacrifício.

O preço da liberdade é a eterna vigilância. Saibamos desprendermo-nos de nós mesmos, a fim de capacitarmo-nos a perceber com maior nitidez os diversos matizes da lei de Deus.

Fonte de Consulta

GIL, F. (Editor). Enciclopedia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional, 1985-1991.

XAVIER, F. C. Boa Nova (pelo Espírito Humberto de Campos). 11. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

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A palavra "pecado" é a tradução do latim peccatum, que significa culpa. Esta vem a ser, por sua vez, tradução do grego bíblico hamartia, que significa deficiência ou erro, e que por sua vez é transcrito da palavra hebraica hatta'to, que poderia ser traduzida com mais precisão pela expressão "errar o alvo". Pecar é errar o alvo, orientar mal o próprio desejo ou então deixar de atingir o verdadeiro objetivo visado. (LENOIR, Frédéric. Pequeno Tratado de Vida Interior. Tradução Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, capítulo 9)


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