21 julho 2008

Pobre de Espírito

Pobreza – do lat. paupertas - significa falta do necessário à vida. Confunde-se, em geral, com miséria, em que há falta até do essencial. Na pobreza, há carência do relativamente supérfluo. Diz-se relativamente porque a pobreza em um estado pode ser miséria em outro, e o que é supérfluo a uns pode ser já o necessário para outro.

No vocabulário cristão, a palavra pobreza tem uma ambiguidade que é preciso esclarecer. Em primeiro lugar, ela pode representar a simples carência de bens. Em segundo lugar, está relacionada com a passagem evangélica, em que Jesus diz: "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus". (Mateus, cap. V, v. 3). O sentido de "pobres de espírito" ou "pobres em espírito" é muito discutido. Não significa desapego, mas refere-se às classes humildes, cujo espírito é oprimido pela necessidade e pelo abatimento.

O caráter revolucionário dessa afirmação não deve ser menosprezado: é uma resposta implícita à arrogância dos fariseus. A maldição da pobreza é substituída pela bem-aventurança, que excede toda a riqueza. O termo não significa que apenas os pobres entram no reino do céu, mas também os pobres. É, assim, uma avaliação positiva da pobreza e não uma crítica negativa da riqueza.

A pobreza pregada por Jesus é uma atitude de livre escolha com relação aos bens espirituais. Difere fundamentalmente da carência de bens materiais. No seu sentido mais profundo, é a aderência do crente à vontade do Criador, a resignação ante os revezes da fortuna, a simplicidade de coração, a pureza dos sentimentos, ou seja, a ingenuidade da alma, que se assemelha à criança.

Simplicidade de coração e humildade de espírito são as molas propulsoras de nosso progresso espiritual. Nesse sentido, o ignorante que possui essas qualidades será preferido ao sábio que as desdenha. É que para alcançarmos o reino do céu devemos crer mais na Providência Divina do que em nós mesmos. Dessa forma, Jesus aproveitava todas as suas oportunidades para exaltar a humildade, que nos aproxima de Deus, e combater o orgulho, que nos distancia Dele.

Não nos abatamos quando formos menosprezados e taxados de "pobres em espírito". O importante é crescermos em humildade e simplicidade de coração.

Deus e Mamon

Deus – do lat. Deus, pelo gr. Theos – é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Mamon – do lat. tardio mammona ou mammonas – significa dinheiro, riqueza, propriedades. Deriva de Mamon, Deus das riquezas da mitologia Síria e fenícia.

São Lucas, no cap. XVI, v. 13 do seu Evangelho, narra a passagem em que Jesus condena a riqueza nos seguintes termos: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou odiará a um e amará ao outro, ou se afeiçoará a um e desprezará o outro. Não podeis servir, ao mesmo tempo, a Deus e a Mamon". Como há inúmeros textos evangélicos condenando a riqueza, tem-se a impressão de que o Cristianismo subestima a dimensão econômica do homem.

Bíblia do Velho Testamento, por exemplo, faz uma apologia positiva da riqueza, dizendo que ela é aspiração humana e bênção divina. Já a Bíblia do Novo Testamento, principalmente com Jesus, abomina-a. Para compreendermos a mudança no eixo com relação à riqueza, convém raciocinarmos em termos dos elementos culturais da época de Jesus. No começo da era cristã, os romanos detinham o poder e abusavam de suas posses materiais. É nesse sentido que Jesus condena a riqueza, ou seja, sua má utilização, não a sua posse.

O homem tem anseio natural à aquisição de bens materiais. Deles provém a sua subsistência vital. Como é vital, acaba enfatizando-a, em detrimento dos bens espirituais. Observe os esforços infrutíferos do marxismo com relação ao fim da desigualdade dos bens possuídos e do direito de propriedade privada. A distribuição justa da riqueza é muito mais uma questão de reformulação interior do que de proibições estatais.

Allan Kardec, no cap. XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, traça-nos um roteiro seguro quanto ao uso da riqueza. Diz-nos que a riqueza é uma prova mais difícil do que a pobreza. Orienta-nos para aplicá-la na caridade, não a que estiola o necessitado, mas a que o ergue até o Pai Celestial. Enfim, mostra-nos que a verdadeira propriedade é a soma dos conhecimentos e qualidades morais armazenada em cada um de nós.

Optemos por servir a Deus. Somente assim ficaremos livres do jugo do Mamon, ou seja, da obsessão pela riqueza material.



Prece

Prece – do lat. prece – significa rogo e, por extensão, pedido instante; súplica. É o orvalho divino que aplaca as nossas chagas mais íntimas. Pela prece pomo-nos em relação com Deus para um pedido, um agradecimento ou um louvor. A prece, enfim, resume todas as nossas aspirações humanas e divinas.

Filosoficamente considerada, a prece traduz-se por um ato espontâneo de adoração ao Criador. A naturalidade da oração nota-se no fato de que a oração é elemento latente na vida de todos. As fundamentações em torno da prece podem ser encontradas nas perguntas 653 a 666 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec. O codificador do Espiritismo propõe, entre outras, as seguintes questões: Qual o caráter geral da prece? A prece torna o homem melhor? Podemos pedir eficazmente o perdão de nossas faltas? As preces que fazemos por nós mesmos podem modificar a natureza das nossas provas e desviar-lhes o curso?

Cientificamente considerada, a prece traduz-se por uma comprovação positiva do seu efeito. O médico-cirurgião Alexis Carrel, em seu livro A Oração - Seu Poder e Efeitos, diz-nos que é difícil separar a ação curativa do remédio do efeito curativo da oração. Contudo, regozija-se com o paciente que ora, porque em suas observações notou que ele facilita o processo de cura. Allan Kardec, no cap. XXVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, discorre sobre a ação da prece. Esclarece-nos que pela nossa vontade podemos atuar sobre o fluido universal e provocar os "milagres", que nada mais são do que uma extrema aceleração dos processos normais de cura.

Religiosamente considerada, a prece traduz-se pela elevação moral da criatura. Pode, também, estar envolta com aquela súplica: "Senhor, ensina-nos a orar". Liga-se a um sentimento de caridade, quando colocamo-nos à disposição dos bons Espíritos para orarmos por nós mesmos ou pelos outros. Nesse sentido, podemos orar para pedir força de resistir a uma tentação, para pedir um conselho, por alguém que esteja em aflição, por nossos inimigos, por um agonizante etc.

A divisão filosófica, científica e religiosa é apenas didática. Na prática, deveríamos vê-la num todo. Quer dizer, o ato de adoração deve ser questionado e analisado sob esses três ângulos, conjuntamente. Dessa forma: estamos orando como os fariseus, que gostam de ser vistos? Nossos impulsos dirigidos ao Alto são puros e necessários? Pomos uma dose de razão ao sentimento de súplica?

A prece, como vimos, constitui emissão eletromagnética de relativo poder. Empenhemo-nos, pois, em fortificar a nossa fé, a fim de que as nossas emissões sejam cada vez mais poderosas.

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— Abstenhamo-nos de empregar a palavra “prece”, quando se trate do desequilíbrio — aduziu Clarêncio, bondoso —, digamos “invocação”. 

E acrescentou:

— Quando alguém nutre o desejo de perpetrar uma falta está invocando forças inferiores e mobilizando recursos pelos quais se responsabilizará. Através dos impulsos infelizes de nossa alma, muitas vezes descemos às desvairadas vibrações da cólera ou do vício e, de semelhante posição, é fácil cairmos no enredado poço do crime, em cujas furnas nos ligamos, de imediato, a certas mentes estagnadas na ignorância, que se fazem instrumentos de nossas baixas idealizações ou das quais nos tornamos deploráveis joguetes na sombra. Todas as nossas aspirações movimentam energias para o bem ou para o mal. Por isso mesmo, a direção delas permanece afeta à nossa responsabilidade. Analisemos com cuidado a nossa escolha, em qualquer problema ou situação do caminho que nos é dado percorrer, porquanto o nosso pensamento voará, diante de nós, atraindo e formando a realização que nos propomos atingir e, em qualquer setor da existência, a vida responde, segundo a nossa solicitação. Seremos devedores dela pelo que houvermos recebido. (Capítulo I — "Em torno da prece", do livro Entre a Terra e Céu, pelo Espírito André Luiz)

— A prece refratada é aquela cujo impulso luminoso teve a sua direção desviada, passando a outro objetivo. (Capítulo II — "No cenário terrestre", do livro Entre a Terra e Céu, pelo Espírito André Luiz)

 

Convidar os Pobres e os Estropiados

Pobre — do lat. paupere — significa aquele que não tem o necessário à vida; cujas posses são inferiores à sua posição ou condição social. Estropiado — do italiano stroppiare, através do espanhol estropear —, aleijado, mutilado.

São Lucas, no cap. XIV, vv. 12 a 15 do seu Evangelho, retrata "os pobres e os estropiados" nos seguintes termos: "... quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado. Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás bem-aventurado, pelo fato de não terem eles com que recompensar-te; a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos justos".

A transmissão do conhecimento na época de Jesus era feita através de parábolas, ou seja, expressava-se um dado conteúdo tendo-se em mente o seu sentido alegórico. Além disso, para que possamos entender o alcance das palavras de Jesus, devemos valer-nos da dimensão cultural do povo judeu. Este era dominado pelos romanos, que ostentavam poder e erudição, desprezando os menos afortunados da sorte. É contra essas injustiças que Jesus endereçava a maioria de suas palavras.

Allan Kardec, no cap. XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, esclarece-nos o sentido alegórico contido no texto evangélico. Diz-nos que o fundo do pensamento está em considerar os pobres e os estropiados como aquelas pessoas que não poderão retribuir, ou seja, devemos fazer o bem pelo bem, sem outra expectativa de recompensa. Ainda: explica-nos que por festins devemos entender, não o repasto propriamente dito, mas a participação na abundância de que desfrutamos.

"Os pobres e os estropiados", na concepção bíblica, exorta-nos à reflexão. Até que ponto estamos dando atenção aos poderosos, aos bem-ajustados na sociedade, em detrimento dos mais necessitados? Dessa forma, parece-nos que a tônica desse ensinamento é que saibamos renunciar ao nosso comodismo, a fim de auxiliar aos mais carentes, pondo em prática a máxima: "não são os sãos os que precisam de médico, mas os enfermos".

Façamos o bem pelo bem. Essa é a única fórmula capaz de dar-nos tranquilidade neste mundo de provas e de expiações em que vivemos.





Carregar a Cruz

Cruz – do lat. cruce – significa antigo instrumento de suplício, constituído por dois madeiros, um atravessando no outro, em que se amarravam ou pregavam os condenados à morte. Salvação – do lat. salvatione –, ato ou efeito de salvar (-se), ou de remir, ou seja, livrar-se do perigo ou da ruína.

A cruz é um dos símbolos cuja presença é atestada desde a mais alta Antiguidade: no Egito, na China etc. A cruz é o terceiro dos quatro símbolos fundamentais, juntamente com o centro, o círculo e o quadrado. Sua função é intermediar os outros três. Mostra, também, os quatro pontos cardeais. É o elo de ligação entre a terra e o céu, o tempo e o espaço. A cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, que, pregado ao madeiro, representa os quatro cantos do mundo, voltados para o Salvador da humanidade.

No Novo Testamento, o simbolismo teológico da cruz só aparece em uma afirmação do próprio Jesus e nos escritos de Paulo. Jesus disse que aquele que o segue deve tomar a sua própria cruz, perdendo assim a vida para conquistá-la (Mateus, 10, vv. 38 e 39; Marcos, 8, vv. 34; Lucas, 9, vv. 23 a 25; João, cap. XII, vv. 24 e 25). Paulo pregava Cristo e Cristo crucificado, embora isso fosse escândalo para os hebreus e loucura para os gentios.

Allan Kardec, no cap. XXIV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, tece comentários acerca de "aquele que quer me seguir, carregue sua cruz". A frase implica seguirmos os ditames de nossa fé, mesmo que para isso tenhamos de sofrer, até mesmo, a perda da própria vida. Quem assim proceder ganhará o reino dos céus. Mas àqueles que sacrificam os bens celestes preferindo os gozos terrestres Deus dirá: "Já haveis recebido a vossa recompensa".

Regozijemo-nos quando os homens, por ignorância ou má-fé, injuriarem-nos e odiarem-nos devido à sinceridade de nossa fé. Suportemos o mal, que ele é passageiro. Tenhamos em mente que as promessas do Cristo não foram vãs. Se ele morreu na cruz para nos salvar, por que esse desespero, quando algo não nos ocorre a contento?

A cruz simboliza o nosso sofrimento. Saibamos carregá-la, afrontando, corajosamente, as dificuldades, as ansiedades e o comodismo que tanto nos atrapalham.




Perturbação Espírita

Perturbação – do lat. perturbatione – significa mudança, alteração, modificação. Perturbação espírita - estado de confusão, embaraço, obnubilamento (maior ou menor, conforme o grau de adiantamento moral) do Espírito no momento de sua separação do corpo físico.

No momento da morte tudo é confuso. O Espírito, isento da vestimenta física, fica como que atordoado ao entrar numa dimensão diferente daquela que estava vivenciando. Há perda de lucidez e de memória. Muitos dizem-se penetrar num túnel escuro. As sensações dos que morreram com pureza de consciência são completamente opostas das daqueles que morreram apegados aos bens materiais. É que os primeiros se preparam para o porvir; os demais, encastelaram-se na superficialidade da matéria.

A duração do estado de perturbação espiritual, no mundo dos Espíritos, varia para cada um de nós. Uns recobram a lucidez e a memória rapidamente; outros, lentamente. Tudo de acordo com o grau de evolução espiritual alcançado. De qualquer forma, inteirando-nos de nossas experiências passadas, boas ou más, podemos projetar o nosso futuro, inclusive com relação a uma próxima encarnação.

Os gozos e as penas futuras dependem do estado consciencial de cada ser. Os Espíritos que praticaram o bem estarão com a consciência pura, portanto, aptos a usufruírem das alegrias celestiais. Os Espíritos que praticaram o mal, terão a consciência turva, portanto, deverão sofrer as penas, no sentido de se reajustarem às leis naturais.

O conhecimento do Espiritismo auxiliar-nos-á na compreensão da maior ou menor duração da perturbação espiritual. Através dele, vamos absorvendo a essência das leis divinas e, dessa forma, antecipando o que há de vir. Convém salientar que o simples conhecimento da Doutrina Espírita não nos levará ao estado de plena felicidade. Importa, muito mais, a pureza de consciência e a prática do bem, que são factíveis a toda a humanidade terrestre.

Estudemos denodadamente o Espiritismo, a fim de que possamos melhorar a nossa conduta e, consequentemente, criarmos condições para habitar um mundo ditoso e feliz.

Inteligência e Instinto

Inteligência – do lat. intellectusinter e lec. = escolher entre, ou intus e lec = escolher dentro, como preferem outros - é a faculdade que tem o espírito de pensar, conceber, compreender. Em sentido restrito, é a função de apreender conexões. Instinto - do lat. obsoleto instinguo, de in e stinguo, e do gr. stizô - significa impulso inato, inconsciente, irracional, que leva um ente vivo, um animal, a proceder de tal ou tal forma.

Os psicólogos procuram realizar uma tarefa difícil: a de distinguir a inteligência do instinto. Para muitos deles a inteligência é mais flexível, sendo até mesmo a soma das experiências do passado, que nos ajuda a tomar decisões no presente. Por outro lado, o instinto é cego, tal qual se observa no cão, que, mesmo domesticado, pisoteia o lugar em que vai dormir, como se devesse dormir sobre a erva.

A observação cuidadosa do comportamento de alguns animais mostra que o conceito comum de instinto, como mero impulso simples, não basta para explicar a complexidade de seus atos. A aranha construirá a teia diferentemente, segundo as circunstâncias e o lugar que disponha. O castor constrói diferentemente, segundo a corrente da água, o nível da mesma ou a presença de homens. Por essa razão, acabam distinguindo o ato instintivo do ato reflexo.

O Espírito André Luiz, no cap. IV de Evolução em Dois Mundos, psicografado por F. C. Xavier, diz-nos que, na retaguarda do transformismo do princípio inteligente, o reflexo precede o instinto e o instinto, a atividade refletida, que é a base da inteligência; nas linhas da civilização, a inteligência, no círculo humano, é seguida pela razão e a razão pela responsabilidade. Acrescenta ainda que a herança e o automatismo estruturam o princípio espiritual, desde sua origem, a fim de que este atinja a maturação no campo angélico.

Allan Kardec, no cap. III de A Gênese, relaciona instinto, paixão e inteligência. Diz-nos que o instinto é sempre guia seguro e nunca erra. Pode tornar-se inútil, mas nunca prejudicial. Enfraquece-se com a predominância da inteligência. As paixões, por sua vez, são úteis até a eclosão do senso moral, em que o ser passivo transforma-se em ser racional. Depois disso, torna-se nociva, caso não seja disciplinada pela razão.

Inteligência e instinto são duas faculdades de nosso espírito. Saibamos ponderá-las eficazmente, a fim de que possamos viver em paz com a nossa consciência.

Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/instinto-e-intelig%C3%AAncia




Espírito

Espírito  do lat. spiritus  significa "sopro", "respiro". Há muitos sentidos relacionados a esse termo: figurado, em que o espírito opõe-se à letra; impessoal, em que o espírito é a realidade pensante; particular, em que o espírito torna-se sinônimo de inteligência. De acordo com o Espiritismo, o Espírito é a substância subtilíssima por essência e que constitui no homem uma das substâncias do seu composto ternário: Corpo, Perispírito e Espírito.

A origem dos Espíritos ainda é-nos desconhecida. Sabemos que de Deus, que é a causa primária de todas as coisas, vertem-se dois princípios: o princípio inteligente e o princípio material. Individualizados, denominam-se respectivamente Espírito e Matéria. O Espírito, criado simples e ignorante, utiliza-se da matéria para sua evolução. A cada nova encarnação, novas experiências e novas oportunidades de aprendizado.

A alma é o Espírito encarnado. Embora muitas pessoas usem esses dois termos como sinônimos, há substancial diferença de concepção. O Espírito é o ser inteligente da criação que povoa o universo e engloba todas as encarnações. A alma é o ser parcial, limitado e circunscrito a uma encarnação específica. No primeiro, a amplitude; no segundo, a redutibilidade. É, pois, nesse processo dialético que o Espírito evolui até atingir a perfeição.

A evolução é do Espírito. Quando encarnado, esquece temporariamente o passado. Contudo, fica-lhe uma vaga intuição do que fez em outras vidas e daquilo que poderia ser feito nesta e nas próximas existências. Se pudéssemos aquilatar o trabalho dos benfeitores espirituais, no sentido de estarmos na situação que estamos, certamente daríamos maior valor ao nosso corpo físico e a tudo o mais que nos cerca.

O Espírito age através do Perispírito. Ao contato perispiritual entre o Espírito e a alma denominamos mediunidade. Assim, é pelo intercâmbio mediúnico que os Espíritos vêm alertar-nos sobre a imortalidade da alma e da sobrevivência do ser. Mostra-nos, também, que a morte é apenas uma mudança de dimensão: de encarnados passamos a desencarnados.

O Espírito é o princípio da vida. Cuidemos dele como se fosse um diamante bruto à espera de ser lapidado.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/esp%C3%ADrito




Justiça Humana e Justiça Divina

Justiça — do lat. justitia — é a virtude moral que faz que se dê a cada um o que lhe pertence e que se respeitem os direitos alheios. Justiça humana — é o conjunto de meios administrativos organizados pelas sociedades humanas para aplicação das leis que estabeleceram, e especialmente para julgar e castigar os delitos contra elas cometidos. Justiça divina — é o atributo de Deus segundo o qual Ele regula todas as coisas com igualdade.

O Universo é regulado por leis: Lei do Progresso, Lei do Trabalho, Lei de Adoração etc. Dentre tais leis, há a Lei de Justiça, Amor e Caridade, que resume todas as outras por ser a mais importante. Essa lei ensina-nos a usar a justiça na sua acepção mais pura, tendo como coadjuvantes o amor e a caridade. A justiça é fria, mas o amor e a caridade lhe dão um impulso superior e generoso, espontâneo e transbordante.

Todos nós fomos criados simples e ignorantes. À medida que vamos nos tornando responsáveis pelos nossos atos, os benfeitores espirituais vão, paulatinamente, deixando-nos ao sabor de nosso livre-arbítrio. O livre-arbítrio, que é a faculdade de optar entre o bem e o mal, muitas vezes enchafurda-se nas paixões. Estas, quando não são domadas pela razão, alteram o reto juízo e desviam-nos da prática do bem.

A justiça divina é a justiça perfeita. Porém, dada a limitação humana, o homem capta apenas alguns matizes dessa justiça maior. Por isso, o Direito da Idade Média difere substancialmente do Direito contemporâneo. É que o tempo transcorrido propiciou a mudança dos hábitos e dos costumes de todos os povos. Assim, a lei humana deve regular as ações dentro de um horizonte cultural, enquanto a lei divina extrapola-a, segundo a dimensão do Direito Divino. Situarmo-nos sempre entre o que é e o que deveria ser é o método mais eficaz para sedimentarmos a justiça divina.

As reencarnações aproximam a justiça humana da justiça divina. Tendo em mente que a Lei do Progresso é inexorável, não resta dúvida que devemos melhorar o nosso senso de justiça, pois é a justiça que regula todas as outras virtudes, tais como a temperança, a prudência, a fortaleza e os seus derivados. O exercício de fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem encaminha-nos para a prática da verdadeira lei de justiça, amor e caridade. Porque, se é natural que desejemos o bem para nós, o mesmo devemos fazer com relação ao próximo.

A aquisição do reto juízo é a finalidade da vida. Esforcemo-nos por compreender o nosso próximo, fazendo-lhe o maior bem possível. Só assim vamos domando nossas paixões e liberando o ser cósmico que há dentro de nós.

Céu, Inferno e Purgatório

Céu — do lat. Caelu — significa espaço ilimitado e indefinido onde se movem os astros; região para onde, segundo as crenças religiosas, vão as almas dos justos. Inferno — do lat. infernu —, lugar ou situação pessoal em que se encontram os que morreram em estado de pecado. Purgatório — do lat. purgatoriu —, lugar de purificação das almas dos justos, antes de admitidas na bem-aventurança.

A ideia que fazemos do Céu é fruto da concepção grega e babilônica (calmo, imutável, vida eterna). Nicolau Copérnico (1473-1543) quebra a tradição milenar e coloca o Sol no centro do Universo. Com isso, a Terra entrou no Céu. Galileu Galilei (1564-1642), com o auxílio do telescópio, dá prosseguimento às teses defendidas por Copérnico. O "em cima" e o "em baixo" deixam de existir. A Ciência parecia ir contra a Bíblia; mas a Bíblia ensina como ir ao Céu, não como ele foi feito.

A religião cristã dogmática, baseando-se nas concepções tradicionais, estabeleceu os lugares circunscritos no espaço, onde estariam localizados o Céu, o Inferno e o Purgatório. O Céu, em cima, é a região para onde vão as almas dos justos gozar da felicidade eterna; o Inferno, em baixo, zona de suplício, onde são enviadas as almas dos que morreram em pecado; o Purgatório, lugar intermediário, em que a alma é detenta a par da condenação perpétua.

Para o Espiritismo, Céu, Inferno e Purgatório são figuras de linguagem e não lugares circunscritos. O Céu indica o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores em que os Espíritos gozam de todas as suas faculdades, sem as tribulações da matéria. O Inferno não é um lugar materializado, com caldeiras ferventes e rochedos em brasa, mas uma vida de provas extremamente penosas, com a incerteza de melhoria. O Purgatório é uma figura pela qual se deve entender o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos felizes.

As expectativas com relação à vida futura dependem da concepção de mundo de cada um. Se materialistas, o nada nos aguarda; se panteístas, retornaremos ao todo universal; se religiosos dogmáticos, iremos para o Céu ou para o Inferno. Apesar de essas imagens estarem automatizadas em nosso subconsciente, não significa dizer que a alma, após o desencarne, encontrar-se-á nessas condições.

De acordo com o Espiritismo, a alma é imortal e, mesmo depois da morte física, continua individualizada e sujeita ao progresso.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/c%C3%A9u-e-inferno

 

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— O inferno, a rigor, é obra nossa, genuinamente nossa, mas imaginemo-lo, assim, à maneira de uma construção indigna e calamitosa, no terreno da vida, que é Criação de Deus. Tendo abusado de nossa razão e conhecimento para gerar semelhante monstro, no Espaço Divino, compete-nos a obrigação de destruí-lo para edificar o Paraíso no lugar que ele ocupa indebitamente. Para isso, o Infinito Amor do Pai Celeste nos auxilia de múltiplos modos, a fim de que possamos atender à Perfeita Justiça. Entendido? (Capítulo 10 — "Entendimento", do livro Ação e Reação, pelo Espírito André Luiz)


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Motivos para se Incomodar

Quando você nasce, de duas uma: ou você nasce rico ou você nasce pobre. Se você nascer rico, não tem motivo algum para se incomodar; se você nascer pobre, de duas uma: ou você ficará rico ou você continuará pobre. Se você ficar rico, não haverá motivo algum para se incomodar; se você continuar pobre, de duas uma: ou você terá saúde ou você será doente. Se você tiver saúde, não haverá motivo algum para se incomodar; se você for doente, de duas uma, ou você ficará bom ou morrerá. Se você ficar bom, não haverá motivo algum para se incomodar; se você morrer, de duas uma: ou você irá para o céu ou você irá para o inferno. Se você for para o céu, não haverá motivo algum para se incomodar; se você for para o inferno, bom, você terá de cumprimentar tantos conhecidos que não terá tempo algum para se incomodar!

 


Injúrias e Violências

Injúria — do lat. injuria — significa ação que ofende a outrem; agravo, vitupério, afronta. Violência — do lat. violentia —, o que se exerce com uma força impetuosa. Diz-se do sentimento ou da afeição, quando supera a vontade.

Para os antigos gregos, cada ser tinha um lugar destinado e tudo se resumia a manter a hierarquia dos valores de cada um na totalidade. Essa concepção não implica luta e violência. No entanto, mesmo entre os próprios gregos surgiu a concepção de mundo como luta de contrários. O mundo "faz-se" precisamente no conflito entre as forças contrárias, do qual brota o novo.

O segundo esquema impôs-se nos tempos modernos. Hobbes formula essa ideia dizendo que "o homem é lobo do próprio homem". Darwin fala em seleção dos mais aptos, na sua teoria sobre a evolução das espécies. Hegel traça as linhas da dialética, como superação dos contrários. Marx quer atingir a igualdade através da luta de classes. Como vemos, tudo gira em torno da força para manter a ordem.

Contudo, o mestre Jesus dizia: "Bem-aventurados aqueles que são brandos, porque eles possuirão a Terra"; "Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus". Acrescenta "que todo aquele que se encolerizar contra o seu irmão merecerá ser condenado pelo julgamento; que aquele que disser ao seu irmão Racca, merecerá ser condenado pelo conselho”. Por essas máximas, Jesus fez da doçura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma lei; condena, por conseguinte, a violência, a cólera e mesmo toda a expressão descortês com respeito ao semelhante.

Na interpretação de Kardec, no cap. IX de O Evangelho Segundo o Espiritismo, os textos evangélicos denotam a ideia de que, até esse dia, os bens da terra estão açambarcados pelos violentos em prejuízo daqueles que são brandos e pacíficos. Porém, quando a lei de amor e caridade for a lei da Humanidade, não haverá mais egoísmo; o fraco e o pacífico não serão mais explorados pelo forte e pelo violento.

O mundo é violento porque somos violentos. Se optarmos pela afabilidade e pela doçura, estaremos auxiliando a construir o mundo ditoso do terceiro milênio.




Mundos Superiores e Inferiores

Mundo – do lat. mundu – significa a Terra e os astros considerados como um todo organizado; qualquer corpo celeste. Inferior – do lat. inferiore –, que está abaixo de outro(s) em igualdade, condição, importância, mérito, valor; que ocupa lugar mais baixo em uma classificação. Superior – do lat. superiore –, que está mais acima; que atingiu um grau muito elevado; de qualidade excelente.

Allan Kardec, no cap. III de O Evangelho Segundo o Espiritismo, divide os mundos em cinco categorias, a saber: os mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma humana; os mundos de expiações e de provas, onde o mal domina; os mundos regeneradores, onde as almas que ainda têm o que expiar haurem novas forças, repousando das fadigas da luta; os mundos felizes, onde o bem se sobrepuja ao mal; os mundos celestes ou divinos, morada dos Espíritos depurados, onde o bem reina inteiramente.

Nos mundos inferiores a existência é toda material. Esses mundos servem de guarida aos Espíritos em que os instintos predominam, a inteligência é rudimentar e a vida moral quase nula. Mesmo assim, Deus não desampara nenhum desses seres, ao incutir-lhes na mente a idéia de um Ser Supremo, a quem venerar e amar. Além disso, o Criador envia, também, Espíritos missionários, a fim de despertar-lhes o senso moral e fazê-los progredir mais rapidamente.

Nos mundos superiores a existência é toda espiritual. Depois de desenvolvidos a inteligência e o senso moral, nos mundos inferiores e intermediários, o Espírito está preparado para ingressar nos mundos ditosos e felizes. Nos mundos superiores não há doenças, nem as deteriorações que engendram a predominância da matéria; pelo contrário, há leveza específica do corpo físico, que torna sua locomoção rápida e fácil. O corpo físico guarda a forma humana, pois esta é a forma em todos os mundos, porém embelezada, aperfeiçoada e, sobretudo, purificada.

O planeta Terra é classificado como sendo um mundo de expiações e de provas, portanto, situado numa posição intermediária. Aqui, ainda o mal predomina sobre o bem. Contudo, estamos aproximando-nos de uma nova fase, o mundo de regeneração. Neste, as almas que ainda têm de expiar haurem novas forças para, depois, darem continuidade ao progresso espiritual até atingirem a condição de serem promovidos aos mundos felizes.

Aproveitemos a oportunidade de estarmos encarnados neste planeta. Façamos todo o bem possível, e seremos merecedores de reencarnarmos em mundos mais ditosos.




Fé: Mãe da Esperança e da Caridade

Fé — do lat. fide — significa adesão e anuência pessoal a Deus, a seus desígnios e manifestações; firmeza na execução de sua promessa ou compromisso. Esperança — do lat. sperantia, do verbo sperare —, ato de esperar o que se deseja; aquilo que se espera ou deseja. Caridade — do lat. caritate — é o amor que move a vontade à busca efetiva do bem de outrem, identificando-se com o amor de Deus.

A fé é um sentimento inato no indivíduo. A direção dada a esse sentimento pode ser cega ou raciocinada. A fé cega, não examinando nada, aceita sem controle o falso como verdadeiro, e se choca, a cada passo, contra a evidência e a razão; levada ao excesso produz o fanatismo. A fé raciocinada, a que se apoia sobre os fatos e a lógica, não deixa atrás de si nenhuma obscuridade; crê-se porque houve consentimento da razão. 

Há virtudes cardeais e virtudes teologais. As virtudes cardeais compreendem a justiça, a prudência, a temperança e a fortaleza. As virtudes teologais, ou seja, aquelas em que há os dons infusos por Deus, são representadas pela  pela esperança e pela caridade. Dentre as virtudes teologais, a fé ocupa lugar de destaque, pois dá embasamento à esperança e à caridade. A caridade, por sua vez, é a mais perfeita, porque pode ser praticada, indistintamente, por todas as classes sociais. 

A fé, mãe da esperança e da caridade, é filha do sentimento e da razão. Quer dizer, a fé, ao ser movida pelo livre-arbítrio, tem o suporte do sentimento e da razão, que lhe dão garantia de obter o esperado, desde que aja caritativamente. Nesse sentido, o Espírito Emmanuel diz-nos: "A fé é guardar no coração a certeza iluminada de Deus, com todos os valores da razão tocados pelo perfume do sentimento". 

A esperança e a caridade, como vimos, são filhas da fé. Esta deve velar pelas filhas que tem. Para isso, convém construir a base do edifício em fundações sólidas. A nossa fé tem de ser mais forte do que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, porque a fé que não afronta o ridículo dos homens não é a verdadeira fé. Além disso, para que a fé seja proveitosa, deve ser ativa, ou seja, não deve-se entorpecer.

A esperança é fruto da crença em Deus. Pratiquemos, pois, a caridade no presente, a fim de tornarmos certo o futuro incerto.



A Fé

Sou a irmã mais velha da Esperança e da Caridade; chamo-me Fé.

Sou grande e forte. Aquele que me possui não teme nem o ferro, nem o fogo: é à prova de todos os sofrimentos físicos e morais. Irradio sobre vós com um facho cujos jatos cintilantes se refletem no fundo de vossos corações e vos comunico a força da vida. Dizem, entre vós, que transporto montanhas; eu, porém, vos digo: Venho erguer o mundo, porquanto o Espiritismo é a alavanca que me deve auxiliar. Uni-vos a mim; venho convidar-vos: sou a Fé.

Sou a Fé! Moro com a Esperança, a Caridade e o Amor no mundo dos Espíritos Puros. Muitas vezes deixei as regiões sublimadas e vim à Terra para vos regenerar, dando-vos a vida do Espírito. Mas, excetuando os mártires dos primeiros tempos do Cristianismo e, de vez em quando, alguns fervorosos sacrifícios ao progresso da ciência, das letras, da indústria e da liberdade, só encontrei entre os homens indiferença e frieza, retomando tristemente o meu voo para o céu. Julgais-me em vosso meio, mas vos enganais, porque a Fé sem obras é um simulacro de Fé. A verdadeira Fé é vida e ação.

Antes da revelação espírita a vida era estéril; era uma árvore que, ressequida pelos raios, não produzia nenhum fruto. Reconhecem-me por meus atos: ilumino as inteligências, aqueço e fortaleço os corações; afasto para longe de vós as influências enganosas e vos conduzo a Deus pela perfeição do espírito e do coração. Vinde abrigar-vos sob a minha bandeira; sou poderosa e forte: eu sou a Fé.

Sou a Fé e o meu reino começa entre os homens; reino pacífico, que os tornará felizes no presente e na eternidade. A aurora do meu advento entre vós é pura e serena; seu sol será resplandecente e seu crepúsculo virá docemente embalar a Humanidade nos braços de eternas felicidades. Espiritismo! derrama sobre os homens o teu batismo regenerador. Eu lhes faço um apelo supremo: eu sou a Fé.

Georges, Bispo de Périgueux

(Bordeaux. Médium: Sra. Cazemajoux)

Revista Espírita de 1862 [mês de fevereiro]


Obediência e Resignação

Obediência – do lat. oboedientia – significa submeter-se à vontade, às ordens de outrem, e executá-las. Resignação – do lat. resignatione, é o ato ou o efeito de resignar-se; renúncia espontânea de um cargo; submissão paciente aos sofrimentos da vida.

Religiosamente considerada, a obediência é submetermo-nos primeiramente à vontade de Deus e, depois, à vontade dos homens, desde que postos hierarquicamente por Deus. O "pecado" surge pela desobediência às leis divinas. Nesse sentido, a resignação é a aceitação serena das consequências advindas das infrações cometidas com relação a tais leis.

Jesus Cristo é o modelo da perfeita obediência. Obedeceu a Deus, aos pais terrestres e aos seus superiores. Contudo, não foi conivente com a corrupção do povo de sua época. Forneceu-nos o exemplo da humildade, da paciência e da renúncia, a fim de atender aos desígnios do Alto. Sua resignação ante o Pai fê-lo morrer na cruz. Ainda aí não arredou o pé, preferindo o martírio, no sentido de enaltecer a verdade e com isso iluminar os nossos corações endurecidos.

obediência é o consentimento da razão, enquanto a resignação é o consentimento do coração. Essas duas virtudes são companheiras da doçura e muito ativas, e a maioria dos homens confundem-nas com a inércia. Muito pelo contrário, há que se ter muita força interior para resistir aos desejos, às paixões ou à revolta ante uma ofensa. O verdadeiro resignado chega até a renunciar ao direito de queixa.

Toda a resistência orgulhosa deverá ceder, cedo ou tarde. Cada época é marcada pelos vícios e pelas virtudes. Nossa virtude é o desenvolvimento intelectual; nosso vício é a indiferença moral. Assim, é conveniente que cada um de nós vá paulatinamente submetendo-se à Lei do Progresso. Não esperemos que os Espíritos venham imolar-nos para que avancemos mais rapidamente na prática do bem e do amor ao próximo.

Obedeçamos a Deus com todas as nossas forças e resignemo-nos aos infortúnios que se nos apresentarem. Não pensemos que a ascensão espiritual vem por um decreto divino. Ela é fruto de um árduo trabalho.



Escândalos: Cortar as Mãos

Escândalo — do gr. skándalon, pelo lat. scandalu — significa aquilo que dá o que falar, que causa indignação por ser contrário à moral, à honestidade, aos bons costumes, à justiça, às leis etc. No sentido espiritual e moral, é todo o obstáculo que, com sua conduta, uma pessoa pode representar para a vida ou a moralidade de outras pessoas.

"Se vossa mão ou vosso pé é um motivo de escândalo, cortai-os e atirai-os longe de vós; é bem melhor para vós que entreis na vida não tendo senão um pé ou uma só mão, do que terdes dois e serdes lançados no fogo eterno. E se vosso olho vos é motivo de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; é melhor para vós que entreis na vida não tendo senão um olho, que terdes os dois e serdes precipitados no fogo do inferno". (Mateus. cap. V, vv. 29 e 30).

A palavra escândalo encerra, no Novo Testamento, um duplo sentido: de um lado, a ideia de que Cristo veio para constituir o escândalo central do homem; de outro lado, a ideia do mal moral que existe em nós e que é preciso desfazer. Quanto ao Cristo, toda a vez que ele apresentava o desprendimento das riquezas e dos bens terrenos, era um escândalo para o povo romano, apegado a tais bens. Quanto a nós, é a necessidade do mal (escândalo) para que nos ajustemos ao bem.

É necessário que o escândalo venha, mas ai daquele por quem o escândalo venha. Por estas palavras, entende-se que o mal é necessário à justiça divina. Contudo, aquele que o praticou para servir à justiça divina não praticou menos mal, e deverá ser punido, pois o mal é sempre mal. Por isso, o cuidado de Jesus em dizer: "Se vossa mão, vosso pé e vossos olhos forem motivos de escândalo (mal), cortai-os e lançai-os longe de vós". Quer dizer, arranquemos o mal pela raiz, pois ele está dentro de nós.

O mal, sendo necessário à justiça divina, dir-se-á que ele durará para sempre, pois, se desaparecesse, Deus estaria privado de um poderoso meio de punir os culpados. Mas, em realidade, não é assim que sucede, porque os mundos progridem moral e intelectualmente. Nos mundos mais avançados, o mal não existe e, portanto, não há necessidade de castigos. O mesmo sucederá com o planeta Terra, quando passar para um mundo de regeneração, em que o bem será a tônica de nossas ações.

Estudemos o Evangelho de Jesus e coloquemos em prática os seus ensinamentos. Tendo-o como norma de conduta, evitaremos o escândalo do "pecado" e da "concupiscência".



Deixai Vir a Mim as Criancinhas

Criança – do lat. creantis – significa ser humano de pouca idade, menino ou menina; párvulo; pessoa ingênua, infantil. Reino – Do lat. regnu, significa monarquia governada por um rei; conjunto de seres ou de coisas que tem caracteres semelhantes ou comuns. Reino de Deus – Governo pela observância das leis divinas gravadas em nossa consciência.

"Apresentaram-lhe, então, criancinhas, a fim de que ele as tocasse; e como seus discípulos afastassem com palavras rudes aqueles que as apresentavam, Jesus vendo isso zangou-se e lhes disse: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais; porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham. Eu vos digo, em verdade, todo aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará". E as tendo abraçado, as abençoou, impondo-lhes as mãos". (Marcos, cap. X, vv. 13 a 16).

O Espírito é sempre Espírito. Ele passa pela fase infantil, mas continua sendo Espírito, ou seja: traz dentro de si as boas ou más qualidades de outras vidas. A infância é um tempo de repouso para o Espírito. Não podendo manifestar as suas tendências, principalmente as más, em virtude da debilidade do corpo físico, este período torna-o acessível aos conselhos daqueles que devem fazê-lo progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências.

reino de Deus é para aqueles que se assemelham às crianças. Jesus não disse que o reino dos céus é para as crianças, porque sabia que o Espírito que nela habita não é um Espírito puro, porém, um ser que, momentaneamente, não pode manifestar as suas tendências. Além disso, há, também, o esquecimento do passado, que ajuda o Espírito a expressar-se espontaneamente. Geralmente a criança age sem malícia e sem segundas intenções.

A criança é um símbolo de pureza de coração. Significa dizer que a entrada no reino de Deus é decorrente da simplicidade e da humildade do Espírito. Nesse sentido, os estados de fraqueza, as ações ingênuas e as atitudes de obediência auxiliar-nos-ão eficazmente na percepção das leis naturais. O reino de Deus não vem com aparências externas, ele é fruto de um árduo trabalho de reformulação interior.

Aprendamos com a criança. A sua espontaneidade ensina-nos que a humildade, a simplicidade e a pureza de coração são sumamente indispensáveis à nossa evolução espiritual.

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— Imaginemos que a terra se recusasse a auxiliar as sementes que esperam reviver. O solo expulsá-las-ia e, em vez dos germens libertados para a vitória da plantação, teríamos tão somente pevides secas, em aflitiva inquietude, desorientando a lavoura. Em verdade, a maioria das mães é constituída por sublime falange de almas nas mais belas experiências de amor e sacrifício, carinho e renúncia, dispostas a sofrer e a morrer pelo bem-estar dos rebentos que a Providência Divina lhes confiou às mãos ternas e devotadas; contudo, há mulheres cujo coração ainda se encontra em plena sombra. Mais fêmeas que mães, jazem obcecadas pela ideia do prazer e da posse e, despreocupando-se dos filhinhos, lhes favorecem a morte. O infanticídio inconsciente e indireto é largamente praticado no mundo. E como o débito reclama resgate, as delongas na solução dos compromissos assumidos acarretam enormes padecimentos nas criaturas que se submetem aos choques biológicos da reencarnação e veem prejudicadas as suas esperanças de quitação com a Lei. (Capítulo X  — "Preciosa conversação", do livro Entre a Terra e o Céu, pelo Espírito André Luiz)

 

 


Orgulho e Humildade

Orgulho – do frâncico urguli, "excelência", atr. do catalão orgull e do espanhol orgullo – significa sentimento de dignidade pessoal; conceito elevado ou exagerado de si próprio; amor-próprio demasiado; soberba, altivez. Humildade – Do lat. humilitate, é a virtude que nos dá o sentimento de nossa fraqueza; respeito, reverência; submissão; pobreza.

Mateus, no cap. XI, v. 25 do seu Evangelho, expressa a relação entre o orgulho e a humildade nos seguintes termos: "Graças te rendo, meu Pai, Senhor do Céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes, e por as teres revelado aos simples e aos pequeninos". Por que razão iria Jesus revelar essas coisas aos mais simples e ocultá-las aos sábios e prudentes?

Allan Kardec, no cap. VII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que é preciso entender os simples e pequeninos como os humildes, ou seja, os pobres de espírito, que se humilham diante de Deus, e não se creem superiores a todo o mundo, e, pelos sábios e prudentes, os orgulhosos, envaidecidos de sua ciência mundana, que se creem prudentes porque negam Deus e, quando não o negam, tratam-no de igual para igual.

O orgulho é o terrível adversário da humildade. O homem de ciência, se não tomar cuidado, tornar-se-á um orgulhoso. Isso porque, com o desenvolvimento da sua inteligência, começará a sentir-se superior aos demais, principalmente com relação aos pobres, tratando-os como seres inferiores, como a ralé da sociedade. Esquece-se, facilmente, de que todos partimos de um mesmo princípio, portanto somos todos iguais perante Deus.

A humildade não é a antinomia do orgulho. Ela é o fundamento de todas as virtudes. O sentimento de humildade nivela-nos aos demais homens. O verdadeiro humilde, se colocado numa posição hierárquica inferior, saberá resignar-se ante tal situação; se posto num lugar de destaque, saberá respeitar o inferior, não como um ser inferior, mas como um igual seu, apenas cooperando em outra função dentro da obra geral.

Humilhemo-nos diante do Criador. Somente assim, conseguiremos atender aos nossos deveres e obrigações repletos de confiança e determinação.

Ler entrevista sobre a humildade (08/03/2009) publicada em:

Jugo Leve

Jugo – do lat. jugu, pelo hebr. môtôl - significa peça de madeira que serve para emparelhar dois animais para o mesmo trabalho. É símbolo de servidão, de opressão, de constrangimento. A passagem dos vencidos sob o jugo romano (trave em asna) é suficientemente explícita. Leve - do lat. leve, de pouco peso, que se movimenta com desembaraço, agilmente, à solta. O jugo de Jesus é suave, isto é, não machuca.

São Mateus, no cap. XI, vv. 28 a 30 do seu Evangelho, narra o "jugo leve" da seguinte forma: "Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e aprendei de mim que sou brando e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas, porque meu jugo é suave e meu fardo é leve".

A reação aos acontecimentos varia para cada um de nós. Duas pessoas colocadas numa mesma circunstância terão sensações opostas: uma sentir-se-á feliz, enquanto a outra se prostrará em desespero. Isso decorre de uma série de fatores, principalmente aqueles que dizem respeito aos nossos objetivos de vida. De qualquer forma, essa passagem evangélica anunciada por Jesus serve de lenitivo para os nossos sofrimentos. Como interpretá-la?

Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, elucida-nos o texto com muita propriedade. Diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura as aflições se abatem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura.

jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: "Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito". Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, secundariamente, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.

Sigamos os ditames de nossa consciência. Não importa o tipo de sofrimento que tal atitude acarreta. Os Bons Espíritos estarão sempre nos secundando, a fim de que possamos carregar o nosso fardo com galhardia.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/jugo-leve